Mais de 50 mil egípcios compareceram nesta sexta-feira à praça Tahrir, no Cairo, para pressionar a junta militar a apressar a transferência do poder para um governo civil, depois de o gabinete interino apresentar uma proposta constitucional que reafirma o poder das Forças Armadas.
Os islamitas egípcios, que convocaram a manifestação, querem protestar contra o projeto proposto pelas autoridades, estimando que a prerrogativa corresponde ao futuro Parlamento que deve ser constituído a partir de eleições que começam em 28 de novembro.
Os participantes do protesto começaram a se reunir pela manhã na praça Tahrir, lugar emblemático da revolta que provocou a queda do ditador Hosni Mubarak em 11 de fevereiro deste ano. O evento ganhou força no início da tarde, depois da tradicional oração muçulmana das sextas-feiras.
Manifestantes entoavam cânticos religiosos antes das preces, enquanto outros distribuíam panfletos exigindo a retirada da proposta constitucional e a realização de eleições presidenciais até abril.
O pedido para a manifestação foi feito na quarta-feira pela Irmandade Muçulmana, depois da decisão do governo sob tutela do Exército de continuar com seu projeto de redação de uma "declaração de princípios fundamentais da Constituição".
Esta carta, que a princípio foi pedida por liberais e laicos, poderá limitar a margem de ação da comissão que deverá redigir a futura Constituição.
"Será que o governo quer humilhar o povo? O povo se revoltou contra Mubarak, e vai se revoltar de novo contra a Constituição que querem nos impor", gritou um membro de um grupo islâmico salafista pelo alto falante, para aplausos da multidão.
O Egito realizará eleições parlamentares em 28 de novembro, mas o processo pode ser prejudicado se os partidos políticos e o governo não chegarem a um acordo sobre o anteprojeto constitucional, que coloca os militares a salvo de qualquer supervisão parlamentar, potencialmente permitindo que as Forças Armadas desafiem um governo eleito.
De acordo com os Irmãos Muçulmanos, a minuta proposta pelo vice-primeiro-ministro Ali al-Selmi "causou uma perigosa crise na sociedade política egípcia, porque inclui cláusulas que tiram a soberania do povo e consagram uma ditadura".
Pelo menos 39 partidos e grupos políticos disseram em nota que vão se manifestar para "proteger a democracia e a transferência de poder". Negociações entre os grupos islâmicos e o gabinete foram rompidas.
Os grupos islâmicos montaram seu próprio palanque, e a praça ficou dividida entre os diversos grupos políticos — exceto no momento da oração. Milhares de salafistas chegaram ao Cairo vindos de diferentes partes do país. Muitos agitavam bandeiras e cantavam o hino nacional.
Na cidade portuária de Alexandria, milhares de pessoas participaram de um protesto semelhante, e pretendiam posteriormente ir em passeata até um quartel. "Fomos exigir mudança, mas tiraram Mubarak, e trouxeram o marechal", gritava a multidão.
F.COM