No México, as mortes ocorridas em operações militares desastradas em regiões dominadas por grupos criminosos ou nas disputas de traficantes por pontos de droga, nas vinganças, ataques pessoais e tentativas de silenciar testemunhas, são chamadas de narcoexecuções. Este ano, já passam de 1.250, de acordo com levantamento do jornal local “El Universal”. Mais de 125 pessoas foram mortas em conflitos armados em cada uma das 10 primeiras semanas de 2009.
O país vive uma crise institucional grave, com cartéis dominando áreas estratégicas e assassinatos sendo banalizados. São localidades como Ciudad Juarez, na fronteira com os Estados Unidos, onde, no começo de março, 20 pessoas foram executadas de uma só vez em uma briga entre facções rivais na prisão.
A situação é mais grave do que em 2008, quando a média, de acordo com estimativa da Procuradoria Geral da República, foi de cerca de 115 narcoexecuções por semana, o que representa um total de 6 mil mortes. O número alarmante tem chamado a atenção de associações internacionais de defesa dos Direitos Humanos e motivado críticas de especialistas.
Para o desembargador do Tribunal de Justiça de São Paulo, Wálter Maierovitch, presidente do Instituto Brasileiro Giovanni Falcone de Ciências Criminais, e um dos principais estudiosos brasileiros de crime organizado internacional, a crise mexicana é resultado da política de segurança pública adotada pelo presidente Felipe Calderón.
Apostando no confronto direto e na repressão como principal alternativa para acabar com o tráfico, o mandatário fez uma parceria com os Estados Unidos, afastou a polícia, considerada corrupta, e escalou o Exército e a Polícia Federal para a missão. A estratégia teve início em dezembro de 2006 e foi chamada de Plano Mérida, referência à cidade em que foi assinado o pacto com o então presidente dos Estados Unidos, George W. Bush.
Segundo Maierovitch, o elevado número de mortes está diretamente relacionado à militarização do conflito. Em artigo recente publicado no site “Terra Magazine”, ele destacou que inúmeros dos assassinados são civis inocentes e que a atuação das forças oficiais têm gerado diversas reclamações e denúncias de associações populares.
O jurista brasileiro considera o Plano Mérida uma “cópia adaptada do falido Plano Colômbia”.
Na Colômbia, principal país produtor de cocaína do mundo, a guerra contra as drogas tornou-se um verdadeiro genocídio de inocentes por parte de militares envolvidos com grupos paramilitares. Conforme a Folha Universal noticiou em dezembro de 2008, soldados e oficiais de olho em promoções e prêmios passaram a matar jovens pobres de periferia e classificá-los como terroristas.No México, os traficantes têm influência e poder nas mais diversas áreas oficiais. É emblemática a declaração do ministro da economia, que, em visita recente a Paris, na França, afirmou: “Se tudo continuar assim, o próximo presidente será um narcotraficante”.
O tom alarmista é o mesmo adotado pelo presidente Calderón nos últimos dias.
Criticado pelo elevado número de mortos, ele descartou qualquer mudança de estratégia e alegou que a crise é resultado do desespero das quadrilhas pela ofensiva do Estado. Calderón aproveitou ainda para cobrar apoio do novo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, e lembrou que o tráfico mexicano é sustentado pelo dinheiro dos consumidores dos Estados Unidos e pelas armas contrabandeadas do país vizinho.
Além do aumento do número de mortes em combates, o México tem vivido o drama de deixar de ser apenas um corredor de passagem da cocaína produzida no Peru, Bolívia e Colômbia para tornar-se um país com grande número de consumidores.
O último relatório do Conselho Internacional de Controle de Narcóticos, da Organização das Nações Unidas, produzido com base em informações prestadas pelos governos dos países em 2008, indica que no México o número de consumidores de cocaína dobrou nos últimos 6 anos e que há até crianças de 8 a 10 anos começando a usar a droga.
F.Uni(D.S.)