Melhorias nas áreas de saúde, educação, segurança e fim da corrupção são os agentes motivadores do eleitorado na faixa etária entre 16 e 18 anos de idade
“Optei por votar nestas eleições porque sei que dessa maneira posso ajudar a melhorar minha cidade, meu estado e meu país”, explica a estudante da 7ª série da EMEB “Salvelina Ferreira da Silva” Lorena Gomes Gonçalves, 16. Em sua primeira participação no evento mais democrático do Brasil, Lorena afirma que, mesmo a poucos dias do pleito, não escolheu ainda seus candidatos. “Ainda não encontrei aquele que tivesse boas propostas ou um bom histórico político. Mas de uma coisa eu sei, irei votar naqueles que eu achar que merecem o meu voto e não naqueles que meus pais querem”, completa.
Lorena não está sozinha nestas eleições. Segundo dados publicados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), irão às urnas 125,913 milhões de brasileiros. Destes 2,555 milhões são jovens com idade superior a 16 e inferior a 18 anos, ou seja, faixa de idade em que o voto não é obrigatório pela Constituição Federal. Em termos percentuais, esse número representa 2.03% do total de pessoas que possuem o título eleitoral no Brasil. Em comparação com a última eleição realizada em 2002 para o preenchimento desses mesmos cargos políticos, o número de adolescentes que optaram pelo ato democrático era de, aproximadamente, 2 milhões.
Para a União Brasileira dos Estudantes Secundaristas (UBES), o aumento da participação dos jovens nas eleições revela o interesse dessa classe em debater e buscar soluções benéficas ao país. “Eu quero participar desde já para ver se a gente consegue mudar alguma coisa”, conta a estudante da 8ª série da escola “Salvelina” Carla Ferreira da Costa, 16. Entre essas mudanças, ela espera ações efetivas nas áreas da educação, saúde, lazer e segurança pública. Mas uma pesquisa feita pelo Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) revela que os anseios de Carla são também os de outros adolescentes no Brasil adentro.
Além dos inúmeros relatos de corrupção advindos da classe política brasileira, outro fato que causa indignação nessa parcela da população é a venda do voto. “Eu conheço um monte de gente que já vendeu seu voto nessas eleições. Acho que isso não vale a pena. Não venderia meu voto, não me venderia. Mesmo com tanta coisa errada que se vê todos os dias, eu acredito num futuro melhor e acredito que eu posso ajudar a construir um país melhor pra mim e minha filha”, assegura Letícia Pereira Ramos, 16, também aluna da 7ª série da escola “Salvelina”.
OUTRO LADO – A luta da juventude brasileira para transformar o Brasil em um país melhor vem de longa data. Há registros da participação juvenil em importantes episódios da vida social. A abolição da escravatura, a campanha “O petróleo é nosso”, a volta da liberdade e da democracia durante a ditadura militar e o impeachment do presidente Fernando Collor de Melo são alguns exemplos das lutas encabeçadas pelos jovens.
Contudo, quando essa participação é trazida à ocupação de cargos políticos, os números são diferentes. Conforme informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), quase metade do eleitorado brasileiro é composta por jovens de até 34 anos de idade. Mesmo assim, só 13 dos 513 deputados federais (o equivalente a 2,53%,) estão inclusos nessa faixa de idade. E, mesmo sendo maioria entre os eleitores (50.92%), as mulheres não têm uma representante sequer na Câmara dos Deputados.
Para o presidente da Confederação Nacional dos Jovens Empresários (Conaje), Doreni Caramori Júnior, esse fato revela que o jovem não vota em jovem. Acredita que o paradigma que associa a pouca idade à inexperiência é o que motiva os demais jovens a não eleger um dos seus. Júnior lembra que há diversos jovens em cargos importantes de empresas que desempenham brilhantemente suas funções.
O fato se reflete não só na Câmara de Deputados. Nas Assembléias Legislativas dos 26 estados e do Distrito Federal há apenas 59 representantes do povo com idade inferior a 34 anos de um total de 1059 deputados estaduais de todo o país.