Khalid Sheikh Mohammed, o homem acusado de ser o mentor intelectual dos ataques de 11 de setembro de 2001 contra os Estados Unidos, dispensou os advogados civis e militares diante de um tribunal militar americano nesta quinta-feira, 5. O membro da Al-Qaeda, levado pela primeira vez a público para responder por crimes de guerra, afirmou ainda que quer a pena de morte.
Além de Mohammed, quatro outros réus acusados de participação na conspiração foram levados diante do juiz Ralph Kohlmann, um coronel dos corpos de fuzileiros navais dos EUA. O julgamento iniciado representa o principal teste até agora ao controverso sistema de justiça militar americano. A audiência ocorre quase sete anos depois dos atentados. Caso sejam condenados, os cinco correm o risco de serem sentenciados à morte.
O suposto cérebro dos atentados rejeitou seus advogados e pediu para se representar diante de um tribunal militar antiterrorista americano. “Não aceitarei nenhum advogado. Representarei a mim mesmo”. Mohammed afirmou ainda que quer ser condenado à morte, para morrer como um “mártir”. Em plena corte ele cantou um salmo a Alá e saudou a pena de morte. “Isto é o que eu quero, ser martirizado”, disse Mohammed.
Mohammed afirmou no ano passado que havia contatado Osama bin Laden com a proposta de sequestrar aviões e jogá-los contra prédios importantes dos EUA. Depois o acusado supervisionou a execução do plano, segundo revelaram transcrições dos interrogatórios realizados pelos militares norte-americanos. Os outros réus são acusados de ajudar a escolher, treinar e patrocinar os 19 sequestradores, de ajudá-los a fazer aulas de piloto e de ajudá-los a viajarem para os EUA.
Segundo a BBC, um dos poucos homens de origem paquistanesa entre os árabes no comando da organização, Mohammed foi chamado pelos Estados Unidos e “um dos terroristas mais infames da história”. Depois de sua captura, no Paquistão em 2003, Mohammed foi mantido em uma prisão secreta da CIA e a própria organização admitiu ter usado uma polêmica técnica de interrogatório que simula a sensação de afogamento (waterboarding).
Os quatro também enfrentam 2.293 acusações de assassinato, uma para cada pessoa morta nos ataques de 2001, quando aviões comerciais foram jogados contra o World Trade Center, em Nova York, contra o Pentágono, em Washington, e sobre um campo de cultivo na Pensilvânia.
A CIA admite o uso desta técnica com apenas três prisioneiros e Mohammed é um deles. Promotores militares americanos afirmam que ele e os outros réus teriam confessado seus crimes em interrogatórios mais “benignos”. Há dois anos, Mohammed foi transferido para Guantánamo, onde acontece o julgamento.
Militares americanos afirmam que, além de admitir o envolvimento nos ataques de 11 de setembro de 2001 em Washington e Nova York, ele também confessou o envolvimento em outras 30 ações terroristas em todo o mundo, incluindo planos de ataques contra o Big Ben e a área de Canary Wharf, em Londres. Mohammed também teria admitido ser o responsável pela decapitação do jornalista Daniel Pearl, no Paquistão, em 2002.
Os outros suspeitos são: Ramzi Binalshibh, saudita, descrito pelos Estados Unidos como o coordenador dos ataques de 11 de setembro de 2001.; Mustafa Ahmad al-Hawsawi, outro saudita que, segundo serviços secretos americanos, teria sido usado por Mohammed para financiar o seqüestro dos aviões em setembro de 2001; Ali Ban al-Aziz Ali, também conhecido como Amar al-Balochi, acusado de servir como um importante assessor de Mohammed, que é seu tio, na organização dos planos de ataque; Walled bin Attach, iemenita que, segundo o Pentágono, admitiu ter planejado o ataque contra o destróier americano USS Cole, no Golfo de Aden, em 2000, que matou 17 marinheiros. Ele também é acusado de envolvimento nos ataques de 11 setembro de 2001.
Ao todo, as acusações incluem “169 atos cometidos pelos réus para promover os eventos de 11 de setembro” de 2001. Os réus deverão ser julgados em um polêmico tribunal militar sob os termos do Ato das Comissões Militares, criado para julgar suspeitos de terrorismo que não sejam cidadãos americanos e aprovado pelo Congresso americano em 2006.