prefeitura de Cuiabá radicalizou ontem o combate à dengue no bairro Alvorada, ao ponto de gerar polêmica. No início da tarde, enquanto setenta agentes percorriam as 3,3 mil casas do bairro eliminando focos do mosquito da dengue, uma casa apontada como grande criadouro do Aedes aegypti foi demolida por uma máquina do município. Comemorada por dezenas de moradores presentes, a demolição da casa não foi comunicada à sua proprietária, a vendedora Elisabeth Nunes de Araújo, que chegou desesperada ao local quando já não havia mais nada em pé.
“Eu estou chocada. Se é pra combater a dengue, por que não cuidar desse esgoto aí atrás do terreno?”, indignou-se a proprietária, que se indispôs com o operador da pá-carregadeira W20 assim que viu sua construção de três cômodos na rua São Pedro reduzida a nada.
A demolição foi ordenada pelo prefeito Wilson Santos após uma visita pela manhã no bairro, junto aos agentes do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ). A ação foi motivada por uma denúncia de moradores. Incomodados com a profusão de mosquitos, eles solicitaram providências em relação ao imóvel, que afirmaram estar abandonado há 18 anos.
Medidas similares não são descartadas pelo município no combate aos criadouros do Aedes aegypti. “Existem outros imóveis em situação idêntica. O proprietário que não tomar as providências exigidas, que fique claro, pode ter como consequência a demolição do imóvel”, divulgou o prefeito. Ele informou que, a medida em que receber denúncias, checará em até 24 horas a situação de demais construções na Capital antes de demoli-las. Segundo o promotor justiça Alexandre Guedes, a prefeitura pode tomar tal medida, mas é essencial que haja antes um processo administrativo que dê oportunidade de defesa aos proprietários dos imóveis. Tal processo não aconteceu com a casa da rua São Pedro, mas o prefeito disse estar munido de provas testemunhais, fotos e filmagens para que o município se defenda caso a proprietária procure seus direitos sobre uma edificação “abandonada que servia de boca-de-fumo”, situação com a qual ela seria conivente.
A medida foi comemorada pelo vizinho Marcos Rezende, 28 anos, cujo filho Caio, de 12, contraiu dengue na semana passada. Ele apontou que a casa demolida estava abandonada e funcionava como um grande depósito de lixo. Já segundo a proprietária, a casa não era abandonada, mas teve sua fossa entupida e ficou sem inquilino há cerca de quatro anos. A partir daí, os vizinhos passaram a jogar lixo no lugar, a despeito dos pedidos de que não o fizessem. Elisabeth pretende acionar a prefeitura judicialmente.
CUIDADOS – O lixo acumulado, ao receber a água das chuvas, é um dos principais tipos de criadouros do mosquito da dengue que Cuiabá tem combatido desde o ano passado. No Alvorada, a prevenção não deixa de ser necessária. Um morador do bairro morreu em decorrência da doença no ano passado, quando ali houve 136 casos de dengue clássica e nove casos graves. Este ano, já foram 13 registros no bairro.
E cairá chuva acima da média nos próximos três meses em Mato Grosso, segundo o Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam). É o que tem acontecido desde dezembro, principalmente no sul do Estado. Já no mês passado, foi a vez do oeste e do extremo norte receberem mais precipitações no Estado. A alta umidade é normal para o período e só deve diminuir em abril, segundo o boletim do Sipam.
fonte/dc