quinta-feira, 21/11/2024
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Me chamam de fofinha mas sou normal, Diz Flavia Saraiva

“Parece que sou muito pequena, né? Mas tenho o corpo compacto. Eu sou tipo certa, não tenho braço muito grande, pernas muito grandes, eu sou tipo normal, tipo você, só que menor, entendeu?”.

Entendido, Flavinha.

Flavinha é Flávia Saraiva. Para os ginastas, Flavinha. Para a torcida, também. Após um minuto de conversa, Flavinha, enfim, para todos.

Com 1,38 m e 35 kg (“34,8 kg ou 34,5 quando emagreço muito”), calçando tênis 34 e vestindo roupas 12 ou 14, “porque o ‘P’ adulto fica muito grande”, ela cresce em carisma, sucesso e carinho do público a cada competição. Mesmo quando não está sobre o solo, a trave, no salto ou pendurada nas barras assimétricas, como ocorreu em São Paulo no último fim de semana.

“Flavinhaaa, Flavinhaaaa!!!”, gritam cinco amigas, estudantes do mesmo colégio particular de São Paulo, ginastas iniciantes e fãs da menina que tem praticamente o mesmo tamanho delas. Mas elas têm entre 9 e 11 anos. A nova estrela tem 16 e completará 17 anos em 30 de setembro deste ano.

“Ela é muito boa. Ela é bonita. Ela é simpática. Ela tem muita simplicidade”, dizem em coro Lara, Giovanna, Ágata, Laura e Laís na arquibancada do Ibirapuera, “desesperadas” por uma foto com Flavinha, que está lá longe, conversando com Daiane dos Santos, ao lado do tablado, no piso do ginásio.

“É um carisma totalmente natural. Ela é uma gracinha, todo mundo fica encantado com ela. E ela responde muito bem às pessoas. É muito bonitinho. Às vezes a pessoa não retribui, mas ela consegue trabalhar isso muito bem. Carisma ela tem o dela, muito natural. Pode ser parecido, sim, com o que aconteceu comigo. Ela é um grande nome da ginástica, muito esforçada em tudo o que ela faz. Ela quer se entregar, isso é muito importante”, analisa a ex-ginasta e hoje comentarista de TV Globo Daiane, dos saltos.

Daiane dos Santos e Flávia Saraiva no ginásio do Ibirapuera (Marcel Merguizo/Folhapress)
Daiane dos Santos e Flávia Saraiva no ginásio do Ibirapuera (Marcel Merguizo/Folhapress)

Flavinha transformou-se em xodó da equipe brasileira em menos de dois anos. Desde o Pan de Toronto-2015, quando ganhou dois bronzes, é como se todos os atletas da delegação quisessem carregá-la como uma mascote, uma ursinha de pelúcia, como os que ela leva na mochila.

“As pessoas me veem assim, não ligo se me acham fofinha. Eu me acho normal. Elas falam: ‘Você é tão fofinha’. Para mim é um elogio, só estão me tratando bem”, diz a ginasta em uma das salas VIPs do Ibirapuera, onde também é assediada por funcionários e torcedores, sempre em busca de uma selfie.

“As pessoas começaram a tirar mais fotos comigo, me reconhecer mais. Começou no ano passado. Depois da Olimpíada juvenil em 2014 [levou um ouro e duas pratas] aumentou, aí veio a Copa do Mundo aqui em São Paulo, o Pan, o Mundial e aumentou ainda mais. Agora está bem maior. Quando vou no shopping as pessoas pedem para tirar foto, e eu tiro. Acho super legal. Se eu visse meu ídolo no shopping eu também ia pedir para tirar foto. É legal”, comenta a ginasta que, poupada pela comissão técnica, nem sequer competiu na etapa paulista da Copa neste ano.

E mesmo assim se tornou o centro das atenções, com os agasalhos largos e a touca colorida de Monstros S/A. Os desenhos animados, aliás, são uma das paixões da menina que já quis ser médica, nunca teve namorado e, agora, além de ginasta, não sabe mais como responder “o que vai ser quando crescer”.

 

 

As caras e bocas durante a entrevista são as mesmas que faz enquanto caminha entre os torcedores, entre uma foto e outra, entre um carinho e outro dos fãs. Caras e bocas cuidadosamente pintadas que chamaram a atenção até do técnico Alexandre Carvalho, que trabalha com a atleta desde que ela tinha 11 anos.

“Não gosto que ela se maquie muito, ela é muito nova. É atleta, é ginasta, não é mocinha ainda. Ela sabe que se estiver de perna cruzada, com cabelo solto, com muita maquiagem, vai ser chamada a atenção. Não é a Flávia que eu conheço”, diz o técnico que começou a treiná-la em Três Rios (RJ) e continuou quando ela chegou na seleção.

“Ele é ciumento”, afirma a ginasta. “Eu não sou muito vaidosa. Estou aprendendo a me maquiar com a Jade [Barbosa] e com a Daniele [Hypolito, companheiras de seleção permanente]. Às vezes sai umas coisas horríveis, mas estou melhorando na maquiagem. Competindo eu fico muito bonita. É uma beleza diferente, porque junta com a beleza do esporte”, diz antes de receber um grande elogio do treinador.

“Ela é uma atleta diferente, desde quando eu comecei a trabalhar com ela eu vi que era diferente das outras meninas. E com ela foi tudo muito rápido, nos últimos dois anos foram vários resultados consecutivos. E o perfil dela, por ela ser carismática, contribuiu ainda mais para o sucesso. Mas tem que ter pés no chão, ela não conquistou nada ainda. Vai para a primeira Olimpíada. Ela não pode mudar. Isso que a gente controla, se ela mudar vai levar puxão de orelha ou não colher bons frutos”, explica Carvalho.

Flavinha mudou pouco nos últimos anos, dizem os mais próximos. A voz continua aguda, com leve sotaque carioca. Tem os centímetros a mais. Os poucos quilos a mais. Está mais forte. O cabelo está maior, e ela adora fazer graça soltando e balançando os fios após tirar a touca. Uma graça para o técnico ver enquanto observa a entrevista.

Aliás, você gosta de dar entrevista, Flávia? “Mais ou menos, gosto mais de treinar. Porque fico nervosa. Eu gosto de entrevista, só não gosto ao vivo. Eu fico muito séria, não quero errar”.

Como em uma apresentação no solo ou na trave, seus aparelhos favoritos nos quais quer buscar uma medalha no Rio, em agosto, ela não erra na entrevista. No máximo, faz uma graça, como costuma fazer na ginástica também.

 

‘Eu sou tipo normal, tipo você, só que menor, entendeu?’, diz Flávia Saraiva (Osvaldo F./Divulgação)

 UOL-Folha de São Paulo OLÍMPICOS

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Parmenas Alt
Parmenas Alt
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