A sojicultura mato-grossense recuperou na atual safra (06/07) a média histórica de produtividade após cinco temporadas perdendo rendimento, ora para a ferrugem asiática, ora para intempéries, ora para redução de tecnologia aplicada ao solo no momento do plantio, uma imposição da crise que se instalou no segmento há dois ciclos. Com mais de 95% da área colhida, Mato Grosso volta a contabilizar média de 3 mil quilos ou 50 sacas por hectare (ha), maior volume desde a safra 01/02.
“A contínua queda na produtividade levou a inúmeros questionamentos. O mais preocupante era sobre a real viabilidade do cultivo no Estado: até que ponto realmente valia a pena plantar soja em Mato Grosso?”, questiona o analista de mercado da Agência Rural (AgRural), em Cuiabá, Seneri Paludo. Ele lembra que no ano passado a soja contabilizou a menor produtividade da década: 46,5 sacas/ha. Volume abaixo disso só foi registrado em 1997, quando a produtividade foi de 45,8 sacas/ha.
“O clima foi fundamental nesta safra. Apesar de um ou outro veranico de no máximo 15 dias, as chuvas ajudaram e houve um controle mais eficaz da ferrugem. O resultado disso é a retomada dos índices de produtividade”, observa Paludo.
Entre uma região e outra, a soja mato-grossense obteve rendimento de até 52 sacas/ha no médio norte e norte do Estado – região da BR-163 e do Parecis – e no sul, foram registrado em média rendimento entre 48 e 49 sacas/ha.
“A soja volta à linha de tendência de alta, mesmo em mais uma safra marcada pela redução do pacote tecnológico, ou seja, o produtor se aproveitou da ‘poupança’ de adubo contida no solo e investiu menos em fertilizantes”, completa o analista.
AMEAÇA – Apesar da boa notícia, após duas safras ruins, nas quais os produtores operaram no ‘vermelho’, a tendência de alta da produtividade está diretamente ligada à postura que o segmento vai adotar na próxima temporada: “Vai investir em tecnologia para garantir números positivos ou vai arriscar a produtividade optando pelo quarto ano seguido pela ‘poupança’ do solo”?, pergunta o analista. “A safra 07/08 vai precisar de investimentos em adubação para confirmar produtividade igual ou acima da média histórica estadual. A ‘poupança’ configura risco a partir de agora”, alerta.
A busca por fertilizantes pode trazer um efeito colateral que já começa a ser avaliado pelos sojicultores. “A procura pelo insumo certamente vai aumentar a cotação dele no mercado e onerar a relação de troca da nova safra”, explica Paludo.
Mesmo sendo considerada uma safra positiva, a frustração da atual temporada dos sojicultores chama-se relação de troca. “Na safra passada, com a desvalorização do dólar perante o real, a saca ficou mais barata, e por isso os produtores tiveram de desembolsar mais soja para aquisição de insumos. Já nesta safra, com cotações superiores para o grão, a relação de troca se manteve inalterada. Mais uma vez o custo de produção abocanha a rentabilidade do produtor”.
A relação de troca dos últimos dois ciclos (05/06 e 06/07) teve média entre 28 e 30 sacas. A matemática é a seguinte: Considerando o rendimento de 50 sacas/ha, cerca de 30 sacas são utilizadas para pagar somente os fertilizantes. “A expectativa do segmento era de que a relação fosse menos onerosa ao produtor. Na safra 02/03 – tempos áureos do grão – a relação de troca ficou em 22 sacas/ha. Atualmente, 25 sacas seriam um volume favorável ao produtor. Os fertilizantes acompanharam a valorização da soja no mercado internacional. A corrida mundial pelo insumo deverá manter os preços em patamares elevados”, avalia Paludo.
NÚMEROS – De acordo com números do sétimo levantamento da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), divulgados na última quarta-feira, a soja mato-grossense deverá alcançar 15,30 milhões de toneladas (t), contra 15,90 milhões/t do ciclo anterior, queda de 3,8%. A área atual é de 5,1 milhões/ha.
DC