A discussão sobre a qualidade das sementes de soja em Mato Grosso foi a principal pauta da reunião da Comissão de Sementes e Mudas de Mato Grosso, no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), realizada nesta sexta (20) em Várzea Grande. A Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja) demandou a discussão entre os elos da cadeia de soja. “Há algum tempo os produtores rurais têm relatado germinação fora do padrão exigido por lei. Precisávamos iniciar esta discussão com as empresas produtoras de sementes e governos”, diz Ricardo Tomczyk, presidente da Aprosoja.
O vice-presidente da associação na região Sul, Alexandre Schenkel, apresentou dados do Circuito Tecnológico – Etapa Soja, realizado pela Aprosoja na ultima safra. Foram coletadas 568 amostras de sementes e, deste total, 9,15% estavam fora do padrão exigido por lei, que é de 80% de germinação. “Pode parecer um número baixo, mas se observarmos os testes, tivemos casos de até 10% de germinação”, alerta Schenkel.
A Aprosoja requer a intensificação da fiscalização das sementes pelo Mapa e também pelo Instituto de Defesa Agropecuária (Indea). Além disso, solicita a melhoria na legislação, com o aumento do percentual mínimo de germinação, a criação de um padrão para vigor e tolerância para a sanidade. “Precisamos trabalhar junto aos parceiros para melhorar a qualidade. Queremos criar um “padrão Aprosmat” de qualidade nas sementes de Mato Grosso”, finaliza Schenkel.
O professor Silmar Teicher Peske, da Universidade de Pelotas (RS), palestrou sobre o padrão das sementes em países produtores de soja, como Estados Unidos, Argentina, Paraguai, Uruguai e Bolívia. Todos têm como padrão mínimo 80% de germinação das sementes. A proposta da Associação dos Produtores de Sementes de Mato Grosso (Aprosmat), construída junto com a Aprosoja, é elevar este padrão para 85%.
Silmar Peske sugeriu que o foco inicial seja a mudança no padrão de germinação e, depois, no de vigor. Ele ainda elogiou a iniciativa das entidades de discutir este tema. “É raro acontecer de o consumidor e o fornecedor das sementes sentarem para chegar a um acordo de melhoria de qualidade. Este fato é inédito no Brasil”, afirma.
Para o pesquisador da Embrapa Soja, João de Barros França Neto, a reunião é um fato histórico. “Talvez Mato Grosso tenha as condições mais adversas para produção de sementes e é aqui que se está discutindo para aumentar a qualidade porque temos tecnologia para isso”, disse. Ele frisou a importância do uso de sementes de alta qualidade e de uma boa semeadora para conseguir o resultado esperado na lavoura.
O governo do Estado atendeu a demanda da Aprosoja e, por meio do Indea, solicitou ao Ministério da Agricultura a atribuição para fiscalizar as sementes em Mato Grosso, mantendo a coordenação do Mapa. Agora, o órgão de defesa está apresentando os documentos necessários e aguardando a autorização. “Com essa medida, o governo busca garantir a qualidade das sementes que chegam aos produtores. O Indea conta com uma estrutura de mais de 100 fiscais e um laboratório que poderá executar este serviço”, explica o diretor técnico da Aprosoja, Nery Ribas.
Houve ainda a solicitação da fiscalização das barreiras para verificar as sementes que vêm de fora do Estado (são mais de 40% do total utilizado pelos produtores mato-grossenses).