A senadora petista Marta Suplicy concedeu uma reveladora entrevista na qual critica duramente a atual situação do PT, em especial a presidente Dilma Rousseff. À edição deste domingo do jornal O Estado de S.Paulo, Marta falou sobre os recentes escândalos envolvendo o partido e contou que o ex-presidente Lula também estava incomodado com Dilma e tinha pretensões de ser o candidato do PT nas eleições presidenciais já em 2014. Marta ainda definiu o chefe da Casal Civil, Aloísio Mercadante, como “inimigo” e afirmou que o presidente da sigla, Rui Falcão, “traiu o projeto do PT.” Ela não quis confirmar, mas deu indícios de que deixará o partido.
A ex-prefeita de São Paulo e duas vezes ministra pelo PT, revelou que Lula criticou Dilma em um jantar organizado por ela aos 30 empresários mais ricos de São Paulo para discutir a o cenário econômico do país. "Eles fizeram muitas críticas à política econômica e ao jeito da presidente. E o Lula não se fez de rogado, entrou nas críticas, disse que era isso mesmo. Naquele jeito do Lula, né? Quando o jantar acabou, todos estavam satisfeitíssimos com ele." Segundo Marta, Lula queria ser candidato à presidência, mas decidiu apoiar Dilma para não gerar ainda mais conflito interno. "Ele é um grande estadista, mas não quis enfrentar a Dilma. Pode ser da personalidade dele não ir para um enfrentamento direto, ou porque achou que geraria uma tal disputa em que os dois iriam perder."
Marta considera que Rui Falcão e Mercadante organizaram um complô contra o retorno do ex-presidente e dividiram o partido entre "lulistas" e "dilimistas". "O Mercadante é inimigo, o Rui traiu o partido e o projeto do PT, e o partido se acovardou ao recusar um debate sobre quem era melhor para o país, mesmo sabendo as limitações da Dilma. Já no primeiro dia, vimos um ministério cujo critério foi a exclusão de todos que eram próximos do Lula. O Gilberto Carvalho é o mais óbvio." Marta ainda disse que Mercadante pretende ser o próximo candidato do PT à presidência, mas deve esbarrar em sua "arrogância". "O Mercadante mente quando diz que Lula será o candidato. Ele é candidatíssimo e está operando nessa direção desde a campanha, quando houve um complô dele com Rui e João Santana (marqueteiro de Dilma) para barrar Lula."
A sendora afirma que Dilma não quis mudar mudar sua equipe econômica e solucionar os problemas do Brasil, pois isso fortaleceria a candidatura de Lula. Marta considera a nova equipe econômica qualificada, mas teme pela gestão da presidente. "Vai depender de a Dilma respeitar a independência da equipe. Se não respeitar, vai ser desastroso. Agora, é preciso ter humildade e a forma de reconhecer os erros é deixar a equipe trabalhar. Mas ela não reconheceu na campanha, não reconheceu no discurso de posse. Como que ela pode fazer agora?"
Decepção – A senadora de 69 anos se disse profundamente decepcionada com o partido que ajudou a fundar em 1980. "Cada vez que abro o jornal, fico mais estarrecida com os desmandos do que no dia anterior. É esse o partido que ajudei a criar e fundar?" Marta comentou sobre os recentes escândalos envolvendo a Petrobras e defendeu que todo o conselho e a diretoria da estatal sejam trocados. Se dizendo "alijada do PT", ela deu a entender que deixará o partido em breve. "A decisão não está tomada ainda, mas passei um mês e meio, dois meses chorando, com uma tristeza profunda, uma decepção enorme, me sentindo uma idiota." Ela diz ter convites de todos os partidos, exceto do PSDB e o DEM.