Caso seja oficializada como candidata à Presidência depois da morte de Eduardo Campos, a ex-senadora Marina Silva, vice na chapa encabeçada pelo PSB, deve ter mais força que o pernambucano para romper ou enfraquecer a polarização histórica entre o PT e o PSDB nas eleições.
O maior equilíbrio na disputa para o Palácio do Planalto e o fortalecimento da chamada Terceira Via na sucessão presidencial são previstas por especialistas consultados pelo iG. Segundo os cientistas políticos, mesmo ao se colocar como uma alternativa aos candidatos Dilma Rousseff e Aécio Neves, Campos não conseguiu avançar nas pesquisas de intenção de voto. Na pesquisa Ibope da última semana, por exemplo, Campos tinha apenas 9% das intenções de voto, contra 38% de Dilma e 23% de Aécio. No último Datafolha, em julho, o pessebista obteve 8%, contra 20% de Aécio e 36% de Dilma.
"Era algo paradoxal o fato de ele representar uma terceira opção, mas ao mesmo tempo ter um discurso bastante parecido com o de Aécio e ainda ter sido um candidato que pertenceu ao governo Lula [como ministro da Ciência e Tecnologia]", afirma Renato Janine Ribeiro, professor de ética e filosofia da Universidade de São Paulo (USP).
De acordo com Janine Ribeiro, as ideias de Marina "colidem" mais com o programa de Dilma e Aécio, especialmente no tema sobre economia e sustentabilidade. Com isso, Marina pode apresentar-se como uma candidata “de contornos mais nítidos” do que Campos.
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Para o cientista político Gilberto Palma, diretor do Instituto Ágora em Defesa do Eleitor e da Democracia, a possível candidatura de Marina terá uma característica programática diferente dos demais postulantes à Presidência."A chapa Eduardo e Marina já se apresentou como uma alternativa de rompimento dessa polarização [entre o PT e o PSDB]. Com a tragédia, a tendência é que se fortaleça essa alternativa de ruptura a esse arranjo histórico. Já era perceptível que ela [Marina] trazia a renovação à chapa e não o Campos", afirma Palma.
Cientista político e professor da Universidade de Brasília (UNB), David Fleischer acredita que o "redesenho" da polarização entre o PT e o PSDB tende a se concretizar pelo fato de Marina ser mais conhecida nacionalmente e até internacionalmente que Campos. "Não há dúvidas que Marina vai tirar voto dos dois [Dilma e Aécio]. Mas tudo vai depender da postura dela e se vai assumir um posicionamento mais moderado", pondera Fleischer.
Marina Silva foi candidata do PV à Presidência em 2010, quando obteve cerca de 20 milhões de votos. Seu eleitorado, porém, não havia se transferido para Eduardo Campos.
Segundo turno
Nesse cenário – com uma plataforma de governo mais peculiar e um nome mais conhecido –, os especialistas acreditam que as chances de a candidatura da Coligação Unidos pelo Brasil chegar ao segundo turno aumentem.
"O Eduardo não tinha condições. O projeto do PSB era que ele lançasse o nome agora para tentar com mais força em 2018. Com Marina é diferente. É provável que ela chegue ao segundo turno já em 2014. Ela tem um apelo eleitoral fortíssimo. Ela é a grande chance de derrotar a situação [Dilma] e provocar um grande susto nas urnas", afirma Bruno Lima Rocha, cientista político e professor da ESPM e Unisinos, no Rio Grande do Sul.
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Fleischer segue essa linha e chega a sugerir que Marina tende a encostar ainda mais em Aécio nas próximas pesquisas eleitorais. "Com certeza nas próximas pesquisas ela deve faturar uns 14% dos votos, ficando mais próxima do candidato do PSDB, que está patinando nos 20%", diz Fleischer.
Um aumento que vai depender do quanto Marina vai conseguir cativar o eleitor indeciso, completa Benedito Tadeu Cesar, cientista político e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). "Se ela puxar o voto dos que ainda não se decidiram, ela levará a eleição para o segundo turno. Mas não há dúvidas que ela representa uma candidatura mais diferente do que a de Campos", afirma Cesar.
Horas depois da morte de Eduardo Campos, o diretor do Datafolha, Mauro Paulino, afirmou que Marina tiraria mais votos de Aécio do que de Dilma. O perfil dos eleitores da ex-senadora, argumentou, é mais parecido com o tucano do que com o do petista: concentra-se nos grandes centros urbanos, em cidades com mais de 200 habitantes, mais escolarizados e com renda mais alta – como o de Aécio. Em compensação, de acordo com analistas, a tendência é que Marina seja uma adversária mais dura de Dilma no segundo turno do que pode vir a ser o candidato tucano.
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