A família Pereira não dá mostras de que vai descansar enquanto não ver atrás
das grades todos os responsáveis pelo assassinato do agricultor Valdevino
Luiz Pereira, morto de forma covarde no dia 2 de fevereiro de 1983 em São
Lourenço de Fátima, distrito de Juscimeira.
A notícia de que o Supremo Tribunal Federal (STF) manteve a decisão do
tribunal do júri contra os co-autores do crime do crime quatro anos após o
Tribunal de Justiça do Mato Grosso (TFMT) ter anulado a condenação dos
acusados dá ânimo à família, que quer Justiça.
O policial militar Francisco Martins Pereira, na época conhecido como
soldado Pereira e hoje promovido a Sargento Martins, e Sandoval Resende da
Silva, são acusados de terem segurado o agricultor no momento do crime.
Ambos foram condenados pelo júri a 12 anos de prisão em regime fechado em
1985. No entanto, a defesa entrou com um recurso junto ao TJMT que anulou a
decisão por considerar as provas inconsistentes.
A assistente de acusação, a viúva Lúcia Pereira, recorreu no Superior
Tribunal de Justiça, que considerou estranha a decisão do TJMT, proferida
pelo desembargador Manoel Ornellas, e anulou a determinação, solicitando um
novo julgamento.
A advogada recorreu novamente junto ao Supremo Tribunal Federal e o ministro
relator Dio caso, Eros Grau, manteve a decisão do júri. O advogado de defesa
dos co-autores, Paulo Fabriny Medeiros, ainda pode recorrer da decisão e
deverá entrar com um embargo de declaração.
O autor dos disparos, José Resende da Silva, também conhecido como Zé Guia,
foi condenado em última instância a cumprir pena de 12 anos em regime
fechado. Porém, em 2007 ele já cumpria pena em regime semi-aberto.
Atualmente, o ex-prefeito, que é irmão de Sandoval Resende da Silva, o mesmo
que ajudou a segurar Valdivino, cumpre pena domiciliar.
*Entenda o caso*
Valdivino Luiz Pereira foi assassinato a tiros após uma discussão com
militantes políticos do extinto PDS (Partido Democrático Social) que
comemoravam o resultado das eleições naquele ano.
Após discutir sobre agressões e ameaças que o grupo fazia às pessoas que não
militavam no PDS, foi seguro por dois homens e baleado no peito. De acordo
com o inquérito policial, o soldado Francisco Martins Pereira, na época
conhecido como soldado Pereira, e Sandoval Resende da Silva, seguraram o
agricultor. O tiro foi disparado pelo José Resende da Silva, o Zé Guia, que
é irmão de Sandoval.
O agricultor morreu na sala de cirurgia, em Rondonópolis. Seu assassinato,
ocorrido há 27 anos, mexeu com a família. Cinco membros da família cursaram
a faculdade de Direito. Dois deles são Defensores Públicos e três são
advogados.
O deputado Valtenir Pereira (PSB/MT) tinha onze anos quando perdeu o pai nas
circunstâncias descritas acima.
Ele lembra que em seu primeiro dia na Faculdade de Direito, em sete de
agosto de 1989, questionado sobre o porquê de sua escolha pelo Direito, o
hoje deputado foi categórico. “Escolhi fazer Direito porque quero fazer
Justiça e colocar os assassinatos do meu pai na cadeia”, declarou.
Valtenir lembra que a acusação enfrentou resistências para levar o processo
adiante. O inquérito policial recheado com informações sumiu do Fórum de
Jaciara em 1985.
No mesmo ano iniciou processo do júri contra Zé Guia, que excluiu Sandoval e
Soldado Pereira do processo porque alegaram legítima defesa.
Entre 1983 e 2001, Zé Guia se torna vereador e prefeito de Juscimeira. Em
maio de 2001, passados 18 anos do crime, o TJ condena o autor dos disparos a
13 anos de prisão.
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Betell Fontes