A Polícia Civil de Mato Grosso desencadeou ontem a Operação Angico para desmantelar uma quadrilha que fraudava a inserção de dados falsos no Cadastro de Consumidores de Produtos Florestais da Secretaria de Estado de Meio Ambiente (CC Sema). O esquema envolve funcionários da Sema, empresários do setor madeireiro e engenheiros florestais e resultou na prisão de 22 pessoas em diversas cidades.
Ao todo foram expedidos pela Justiça 82 mandados de prisão temporária e 52 de busca e apreensão. Além de Cuiabá, a operação, que envolveu 20 delegados, 100 investigadores e 10 escrivães, aconteceu em outros 22 municípios, entre eles Alta Floresta, Carlinda, Paranaíta, Marcelândia, Analândia do Norte, Peixoto de Azevedo, Guarantã do Norte, Matupá, Nova Guarita, Primavera do Leste, Cláudia, Feliz Natal, Vera, Sorriso e Sinop.
O inquérito policial é presidido pela delegada fazendária Luzia Machado, que acompanhada do delegado Massao Ohara, estava em Sinop, onde 16 pessoas foram detidas. Na Capital, foram duas. Uma se trata de William Pereira, 24 anos, funcionário terceirizado da Tecno Mapas, empresa contratada pela Sema e que ajudou a criar o sistema de cadastro. Pereira trabalhava no CCSema.
O outro detido foi Emanoel Ardaia, funcionário concursado da Secretaria de Estado de Saúde (Ses) cedido à Sema. Ele ocupava função no Centro de Tecnologia da Informação (CTI). Ambos já foram demitidos. Também houve duas prisões em Marcelândia e outras duas em Alta Floresta.
De acordo com o diretor Metropolitano, Wilson Leite, as investigações começaram após o Serviço de Inteligência detectar, há quatro meses, a fraude no CCSema. Segundo as investigações, um ex-estagiário da Sema, identificado apenas Luiz Felipe, vinha recebendo vultuosas importâncias em dinheiro para inserir cerca de 60 mil metros cúbicos de madeiras beneficiando 47 empresas do ramo, que tiveram seus cadastros cancelados pelo órgão ambiental estadual.
O nome do ex-estagiário completo está sendo mantido em sigilo, de acordo com a delegada Alana Cardoso, para não atrapalhar as investigações. Segundo ela, Luiz Felipe está colaborando com a polícia e poderá ser beneficiado com a delação premiada. Ele teria apontado os demais participantes do esquema.
Há um mês, foi realizada busca e apreensão na casa de uma amiga do ex-estagiário, onde a polícia civil encontrou R$ 70 mil. Luiz Felipe confirmou que o dinheiro referia-se ao pagamento de propinas para inserção de créditos falsos de madeiras.
O dinheiro ele teria recebido de duas pessoas, cujos nomes também não foram divulgados, sendo que seria uma intermediária no esquema e que está foragida e outra um engenheiro florestal de Sinop. Estas duas pessoas eram aliciados pelos sócios das empresas madeireiras.
William Pereira e Emanoel Ardaia negaram participar da fraude. “Não fiz nada. Eu só era um digitador que fazia o que o chefe pedia”. Já Ardaia disse que oficialmente não sabia nem do que estava sendo acusado. Ele informou que sua função era apenas a criação de usuários do sistema e que não tinha acesso às senhas ou aos logins (nome cadastrado) dos usuários do sistema da Sema. “Não visualizava as informações das guias, sendo que até mesmo qualquer alteração de usuário era feita mediante autorização”, afirmou.
No último dia 11, a Sema exonerou sete servidores, todos de cargos comissionados, por suspeita de participação em um esquema fraudulento de legalização de estoques de madeiras extraídas ilegalmente.