O Brasil assistiu estarrecido às cenas de carnificina dentro dos presídios brasileiros, que tiveram como um dos protagonistas a organização criminosa PCC. Para além da brutalidade, os crimes revelaram uma nova característica assumida pelo grupo do líder criminoso Marcos Willians Herbas Camacho, o Marcola, que cumpre pena em presídio de segurança máxima: o PCC saiu das prisões e avança País afora. Onde há a ausência do Estado, o crime organizado se fortalece, diz o promotor Lincoln Gakiya, do Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado (GAECO) de Presidente Prudente (SP), uma das maiores autoridade no assunto. Segundo ele, o PCC tem sete mil integrantes apenas em São Paulo, onde surgiu, mas de 2014 para cá, cresceu em números assustadores: pulou de três mil para aproximadamente 16 mil integrantes e passou a ter ramificações em praticamente todo o território nacional.
Um dos Estados onde houve maior expansão foi Roraima, palco de outra matança. Cinco dias após as 56 mortes em Manaus que tiveram o PCC como vítima, 33 sentenciados perderam a vida em celas da Penitenciária Agrícola de Monte Cristo (RR) em uma vingança da organização paulista. Segundo relatório de inteligência do governo do Estado, em 2013 a facção tinha 50 integrantes, mas esse número saltou para aproximadamente mil no ano passado. No Distrito Federal, centro do poder político, investigações da Polícia Civil apontam que o grupo começou a se instalar no fim de 2014 e também busca uma expansão. Dados obtidos com exclusividade pela reportagem de ISTOÉ mostram que atualmente transitam pelas ruas do DF cerca de 100 integrantes do PCC. Mas também há vários deles nos presídios: 83 membros da organização foram capturados em duas operações realizadas pela Divisão de Combate ao Crime Organizado (Deco) em 2014 e em 2015. A reportagem teve acesso a trechos das investigações (leia quadro). O braço do DF é coordenado por um integrante que recebe a alcunha de Geral do Estado.
Mensalidade
Por ter uma das rendas per capitas mais altas e concentrar o poder do País, Brasília está na mira das quadrilhas criminosas. Os bandidos se instalam em cidades no entorno, uma espécie de cinturão composto por 17 municípios. Para angariar recursos, o braço do PCC no DF adota várias modalidades de crime, que vão de tráfico de drogas a roubos de veículos e caixas eletrônicos. Além de rechear os cofres com ações criminosas, o grupo também cobra uma mensalidade de R$ 400 de cada membro que está em liberdade.
Ary Filgueira-Istoé