quinta-feira, 21/11/2024
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LULA OU ALCKMIN: o falso dilema da esquerda… Ou da direita?

Ivone Maria Ferreira da Silva
Profª do Departamento de Serviço Social -UFMT

Depois que o PT virou o saco de pancadas da gandaia nacional porque uma parte extirpável do partido mostrou que também é lobo mau, recebo provocações até de mim mesma (desculpem a redundância), para responder por que ainda voto em Luiz Inácio Lula da Silva, seu sócio-fundador. Creio que todos os petistas e ex-petistas sérios passam pela mesma aflição. No meu caso, penso que tal fato decorre de um protagonismo político, de mais de 10 anos, em que estive vinculada ao Partido dos Trabalhadores, hoje tão em xeque.
Bem, a primeira resposta é de senso comum: como todo casamento ruim, ainda não me decidi se saio ou aposto na relação, mesmo ciente das conseqüências que a mesma acarreta.
Agora, do ponto de vista ideo-político acho muito cedo julgar um projeto histórico que não foi construído pelo “governo LULA” e sim, pelos 800 mil militantes que compõem ou compunham o PT, como bem lembraram Heloísa Helena e Cristovam Buarque, no último debate do 1º turno.
Assim, não vou repetir os motivos que a maioria dos/as eleitores/as evocariam para depositar em LULA seu voto (de esquerda e de direita, reconheço!): a política social, ainda que compensatória, mas de ampla cobertura; o PROUNI; a agricultura familiar; o risco-país; a diminuição da pobreza etc. Paradoxalmente, razões utilizadas pela esquerda revolucionária para não votar.
A minha decisão se justifica, especialmente, porque não imagino um político preconceituoso, reacionário e conservador como Alckmin administrando a vida econômica, social e política deste país. Como neoliberal confesso, seria o Estado máximo para o capital e o Estado mínimo para os trabalhadores/as.
Se para Ricardo Antunes o atual governo representa o fim da luta de classes – ora reprimindo, ora cooptando os movimentos sociais – imaginem como reagiria Alckmin no enfrentamento da questão social brasileira? Se com nove dedos, semi-analfabeto e pobre, LULA só governou para os ricos e é tão nefasto quanto… Imaginem o Alckmin com a empáfia, o figurino e as condições sócio-culturais (família classe média, formação médica, cara de rico, jeito de bom moço etc) para quem governaria?
Fico com a análise corajosa de quem é, também, sócio-fundador do PSOL – partido que saiu das entranhas do PT – o sociológico Chico de Oliveira, articulado com outros intelectuais como o próprio Ricardo Antunes. Confira este trecho da sua entrevista à Carta Maior: 1 “Um futuro governo Alckmin representaria um aprofundamento das privatizações de FHC. No caso de Lula, apesar de não esperar alterações na política econômica, há espaço para mudanças”, diz ele, assumindo que votou em Heloisa Helena no 1º turno.
Mas onde eu quero chegar com todo esse rodeio? No voto nulo. Com freqüência escuto alguém falar ou comentar que fulano ou beltrano vai votar nulo porque… Enfim, confesso, que também, na condição de “mulher traída”, já me ocorreu jogar a criança com a água da bacia e votar nulo no segundo turno, um texto de uma página e meia me fez repensar minha quase capitulação diante do segundo turno, daí porque resolvi transcrevê-lo neste artigo, a fim de socializar minhas inquietudes, mesmo correndo o risco de sofrer algumas réplicas. O que não seria tão ruim assim, porque geraria um debate de preferência público. Vamos ao texto mencionado:
Sentencia um “velho” revolucionário na I internacional Comunista, nos idos de 1871 que,
“[…] Em política, a abstenção absoluta é impossível. Todos os jornais abstencionistas fazem política – o quid da questão consiste, unicamente em se saber como a fazem e que política fazem. Para nós a abstenção é inviável. […] Pregar a abstenção política aos operários significa lançá-los aos braços da política burguesa. A abstenção política é totalmente impossível, sobretudo após a Comuna de Paris, que colocou na ordem do dia a ação política do proletariado. […] Todos os abstencionistas se pretendem revolucionários, e até revolucionários por excelência. Mas a revolução é a suprema ação política: quem a deseja, deve desejar o que a viabiliza, a ação política que a prepara, que propicia aos operários a educação revolucionária, sem a qual, no dia seguinte ao da luta, eles serão enganados pelos Favre e pelos Pyat 2. Contudo, a política a que devem dedicar-se os trabalhadores é a política operária. O partido operário não pode constituir-se como apêndice de um partido burguês qualquer, mas como partido autônomo com o objetivo e política próprios. As liberdades políticas, o direito de reunião e a associação e a liberdade de imprensa – estas são as nossas armas. Deveremos cruzar os braços e abstermo-nos quando nos querem tirá-las? Diz-se que toda ação política implica o reconhecimento do estado de coisas existente. Mas quando esse estado nos proporciona meios para lutar contra ele, recorrer a tais meios não significa legitimar o status quo” (ENGELS, 1981:101)3.

Retomando para pensarmos juntos/as: a referência ao texto do Engels não tem relação imediata com atual conjuntura política brasileira porque o fiel parceiro de Marx está escrevendo em 1871, em plena Comuna de Paris, uma das experiências de governo operário mais exitosa da história contemporânea, segundo José Paulo Netto o que, é claro, não ocorreu com a experiência do governo petista. Todavia, quem conhece esse intelectual, sabe muito bem que é um profundo estudioso da teoria marxiana, velho comunista e vota no PT, ou pelos menos votava, naqueles primeiros momentos (1989/1994/2002) com todas as restrições de natureza ideo-política que um comunista tem deste partido.
Logo, o que vale a pena no texto do Engels, entre tantas outras, é esta reflexão: “[…] toda ação política implica o reconhecimento do estado de coisa existente […]”. A nosso ver, quem se abstém na atual conjuntura, não está “política mente correto” – para usar um jargão da moda -; quem se abstém de votar no LULA, pode, ao contrário, fazer a política da direita, da classe burguesa, e aí sim, letigimar o status quo, como sentenciou Engels.
Importante destacar que não estamos reduzindo a concepção de ação política de Engels à mera disputada eleitoral, nem mesmo confundindo a Comuna com o parlamento burguês. Cabe lembrar, todavia, que a esquerda lutou e ainda luta contra regimes absolutistas, totalitários e ditatoriais com um velho instrumento da democracia burguesa, via-de-regra, utilizado na disputa parlamentar, chamado voto universal, conquista do século XIX na luta pela ampliação da cidadania – dirá um economista liberal (Marshall, 1965). Essa argumentação passa longe da tese de Fukuyama com relação à vitória da democracia liberal, especialmente a norte-americana.
Por fim, vejo que não se trata de votar nulo, mas de qualificar nosso voto como uma dimensão importante, mas não exclusiva, da ação política. Para a direita Alckmin representa tal qualificação; para a esquerda não existe opção. Restaria-nos apenas chamar Fukuyama (1992) para decretar o fim da história? Ou votar no LULA, organizar a esquerda, sair das salas aulas, das bibliotecas individuais, dos sindicatos de resultado e ir para as ruas? Irmos à luta, construindo uma frente revolucionária de esquerda e tantas alternativas para quem tem consciência social e política que gosta, sabe e se dispõe a fazer política sem se deixar cooptar. Dessa forma, elegemos LULA para não fortalecer Alckmin e o PSDB, mas ao mesmo tempo, devemos pressioná-lo a fazer o governo que queremos; caso necessário, o tiramos de lá como um bom exercício de ação política. Já o fizemos uma vez!

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Parmenas Alt
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A estrada é longa e o tempo é curto. Não deixe de fazer nada que queira, mas tenha responsabilidade e maturidade para arcar com as consequências destas ações.
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