O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o governante uruguaio, Tabaré Vázquez, concordaram em conversa nesta terça-feira em que é preciso evitar o protecionismo como instrumento para combater a crise. Além disso, os líderes recomendaram aos demais membros do Mercosul uma renovação da aposta na integração regional.
“Quem crê que se salvará com protecionismo vai acabar afundando sua economia a médio prazo” e deverá entender que é necessário “mais comércio, mais comércio e mais comércio para que a economia comece a voltar à normalidade”, ressaltou Lula em entrevista, após se reunir com o líder uruguaio.
Vázquez explicou que as dimensões da crise internacional e seus efeitos nas economias da América Latina foram alguns dos assuntos discutidos no encontro com Lula, em sua terceira visita oficial ao Brasil desde 2005.
Os dois presidentes possuem a mesma opinião de que a crise começou nos países mais ricos, aos quais apontaram agora como responsáveis por achar uma saída, mas também concordaram em que é preciso uma maior coordenação internacional para a recuperação das economias globais.
Em comunicado conjunto, Lula e Vázquez indicaram que a crise “impõe aos governos o desafio de buscar maneiras criativas para superar a escassez de crédito e expandir o comércio mundial”.
Nesse sentido, ambos defenderam a retomada das negociações da Rodada de Desenvolvimento de Doha no marco da Organização Mundial do Comércio (OMC).
No terreno regional, ressaltaram que “é fundamental aprofundar o processo de integração do Mercosul (formado pelos dois países junto com Argentina e Paraguai)”, assim como “ampliar os mecanismos inovadores” e manter “enfoques flexíveis com esse objetivo”.
Apesar de condenarem o protecionismo, fontes brasileiras e uruguaias afirmaram que não havia qualquer “mensagem” dirigida à Argentina, país que aplicou medidas restritivas às importações que foram qualificadas de “protecionistas” pelos outros membros do Mercosul.
O assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia, negou em declarações feitas a jornalistas que Brasil e Uruguai estejam preparando algum tipo de “ação conjunta” contra a Argentina, mas lembrou, em sintonia com os presidentes, que recorrer ao “protecionismo não ajudará ninguém”.
García explicou que os problemas entre Brasil e Argentina são discutidos “de forma muito franca” no âmbito bilateral e não foram tratados na reunião entre Lula e Tabaré.
Outras fontes, no entanto, disseram à Agência Efe que Vázquez manifestou a Lula seu mal-estar com o governo de Cristina Fernández de Kirchner e, especialmente, pelo impacto que essas medidas têm no comércio entre Argentina e Uruguai.
No plano bilateral, Lula reiterou que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) abrirá um escritório em Montevidéu para promover o investimento brasileiro no Uruguai, e garantiu que a Petrobrás manterá uma crescente presença no país vizinho.
No encontro também foi ratificada a vontade de Lula e Vázquez de levar adiante um projeto de interconexão elétrica, já respaldado pela Unidade Técnica do Fundo para a Convergência Estrutural e Fortalecimento Institucional do Mercosul (Focem), mas cujo financiamento ainda não foi aprovado pelo bloco.
Fontes diplomáticas disseram à Efe que, caso a aprovação no Focem demore mais tempo, o Brasil poderá utilizar créditos do BNDES para financiar a obra, cujo custo é estimado em pouco mais de US$ 200 milhões.
Outro assunto discutido pelos líderes foi a possibilidade de substituir o dólar pelas moedas locais no comércio bilateral, como o Brasil já faz com a Argentina e como o país propôs também aos governos de Venezuela e Colômbia.
No caso do Uruguai, que manifestou interesse no assunto, o Brasil ofereceu ajuda para organizar um seminário sobre esse modelo em Montevidéu, que deve ocorrer em abril.
Vázquez, que esteve acompanhado pelos ministros de Economia, Álvaro García, e Indústria e Energia, Daniel Martínez, assim como pelo presidente da petrolífera estatal Ancap, Raúl Sendic, voltou a Montevidéu após um almoço oferecido por Lula no Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores.