O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse nesta segunda-feira estar mais otimista com a volta das discussões de comércio dentro da Rodada Doha, “porque há uma vontade política de que essas coisas aconteçam. Todo mundo sabe que se não acontecer um acordo sobre o comércio agora, a OMC vai perder credibilidade, ou seja as pessoas vão se perguntar por que ela existe”. Lula afirmou que a Rodada Doha deve ser fechada até abril e que ele mesmo vai ligar “por estes dias” para os presidentes dos países envolvidos em negociações.
O presidente retornou nesta segunda ao programa de rádio Café com o Presidente, que ficou fora do ar por sete meses, devido à legislação eleitoral. O programa é retransmitido pela rede de Rádio da Radiobrás, liderada pela Nacional de Brasília.
Ainda no programa, Lula disse que já “disse ao Tony Blair que, em algum momento, nós vamos ter que ter cinco minutos de estadistas dentro de nós e vamos tomar uma decisão. Uma decisão que possa significar apontar para os países mais pobres do mundo uma esperança de que o século 21 vai dar a eles a oportunidade de se desenvolver. O Brasil, além de apresentar essas propostas, tem no programa do biodiesel e no programa do álcool grandes programas que podem ajudar os países pobres a se desenvolverem”.
Lula afirmou que “não adianta os países ricos acharem que vão ajudar os países pobres dando um pouquinho de dinheiro, não. É muito melhor a gente investir em projetos de desenvolvimento nos países mais pobres. Eu participei de uma reunião e lá fiz questão de dizer que a decisão agora é eminentemente política, não mais econômica. É uma decisão em que os presidentes e os primeiros-ministros, as pessoas que têm responsabilidade de tomar a decisão, vão ter que dizer se querem ou não querem”.
Ele disse estar otimista, afirmando que “estamos avançando bem”. “Por esses dias, vou ligar para os presidentes que estão mais envolvidos nessa história da Rodada de Doha, vamos ver se a gente assume a responsabilidade. Estou convencido de que se nós não fizermos acordo de comércio que permita aos países pobres ter acesso aos mercados agrícolas dos países ricos, nós vamos viver mais um século vendo os países mais pobres continuarem mais pobres”.
Negociação reaberta
Representantes de 49 países, incluídos Brasil, Estados Unidos e os 27 da União Européia, decidiram, durante o Fórum Econômico Mundial encerrado no domingo, relançar a Rodada Doha de negociações comerciais, desta vez sem margem para fracasso, “porque o mundo está perdendo a paciência com a OMC (Organização Mundial do Comércio)”, segundo o chanceler brasileiro, Celso Amorim. O diretor-geral da OMC, Pascal Lamy, foi igualmente enfático: “Um fiasco seria um choque sério, porque suas conseqüências iriam além do comércio, como disse o presidente Lula – e Lula está certo”.
Uma das novidades animadoras foi levada à reunião pela negociadora americana Susan Schwab. O presidente George Bush vai pedir ao Congresso na próxima semana uma renovação da autoridade para negociar acordos não sujeitos a emenda pelo Legislativo.
Ele deverá discursar sobre a necessidade de conclusão da rodada. A autorização para Bush firmar acordos termina em 30 de junho.
PAC
Lula disse também, ainda durante o Café com o Presidente, que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), “é um compromisso do governo brasileiro com as principais obras de infra-estrutura do País nos próximos quatro anos. No PAC, o que é importante? É que nós definimos investir quase R$ 504 bilhões. Nós decidimos investir em habitação, saneamento básico, que nunca foram investidos neste País. Ao mesmo tempo, nós queremos mostrar seriedade, porque criamos conselho gestor, que vai dirigir esse programa de investimento para que não se perca na demanda diária da política brasileira”.
Lula salientou ainda que “o PAC tem três coisas importantes”: mudanças em algumas coisas na área econômica que vão permitir mais flexibilidade para investimentos, que passa pela desoneração; mudanças legislativas para tentar destravar o País de coisas que, às vezes, demoram meses para acontecer; e a decisão de investimento em infra-estrutura, “ou seja, o que nós temos de prioridade na parte de gasoduto, na parte de energia elétrica, na parte de rodovias, na parte de portos e aeroportos, na parte de hidrovias”.
“Fizemos algum estudo profundo, foram alguns meses de trabalho. Quem assiste a uma sessão de apresentação do PAC, vai perceber que aquilo é uma coisa extremamente séria, extremamente responsável. Nós não inventamos obras, ou seja, as obras que estamos colocando como prioridade são demandas históricas deste País. Portanto, eu estou otimista”, completou.
OE