O inchaço no tornozelo, resultado de uma torção que sofreu no início da semana em Brasília, levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a cancelar presença no banquete oficial de abertura da cúpula África-América do Sul em Abuja, Nigéria.
O jantar será oferecido pelo presidente nigeriano, Olusegun Obasanjo, em sua residência oficial e marcará o início do evento do qual o Brasil foi um dos principais incentivadores. A realização da cúpula começou a ser discutida durante uma visita de Lula à Nigéria no ano passado.
A torção no tornozelo direito também levou o presidente a reduzir a agenda prevista para o dia e a concentrar no hotel os encontros com os líderes de Togo, Gana, Moçambique e Argélia.
Com dificuldade de caminhar, Lula chegou a circular pelo hotel em uma cadeira de rodas, empurrada pelo seu médico pessoal, Cleber Ferreira. O problema no pé também fez o presidente cancelar a participação na inauguração do setor consular da embaixada brasileira em Abuja.
Encontro com Khadafi
As mudanças na agenda do primeiro dia de visita de Lula à Nigéria incluíram ainda o adiamento de um encontro com o líder líbio Muamar Khadafi.
Segundo o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, a reunião foi transferida para a parte da manhã desta quinta-feira porque nesta quarta-feira os dois líderes teriam de conversar rapidamente e Khadafi fazia questão de um encontro mais longo.
As informações inicialmente divulgadas indicavam que o adiamento tinha sido causado pelo atraso do africano, que permaneceu por mais tempo do que o previsto em um almoço na casa do embaixador de seu país.
Segundo o governo brasileiro, o encontro foi pedido por Khadafi, horas antes da abertura oficial da cúpula África-América do Sul.
Ausências
Amorim relativizou a importância da ausência de importantes líderes sul-americanos, como o venezuelano Hugo Chávez, o argentino Néstor Kirchner e o colombiano Álvaro Uribe. “Muitos países estão em meio a processos eleitorais, outros passam por problemas internos, então acho até que a vinda de seis presidentes da região não é tão mal assim”, disse.
Além de Lula, os chefes de Estado de Paraguai, Bolívia, Equador, Guiana e Suriname participam da cúpula em Abuja.
Para Amorim, o Brasil tem uma relação mais próxima à África do que outros países da região, por razões culturais, e deve “compartilhar” esse interesse com as demais nações sul-americanas.
Comunicado conjunto
Após o fim da cúpula, na quinta-feira, os líderes deverão divulgar um comunicado conjunto e um plano de ação com temas de interesse mútuo entre as duas regiões. Os documentos devem tratar de questões nas áreas de comércio internacional, infra-estrutura, uso dos recursos naturais, agricultura, turismo e segurança.
As discussões prévias entre diplomatas dos 63 países representados na cúpula foram marcadas por divergências em vários pontos. Um desses pontos é a proposta para a expansão do Conselho de Segurança da ONU. O Brasil almeja sua inclusão entre os membros permanentes do conselho, ao lado de Índia, Alemanha, Japão e um país africano, mas essa proposta não é consenso entre os demais países sul-americanos nem dos africanos.
O documento final da cúpula deve defender a expansão na ONU, mas sem especificar os detalhes da proposta para esta expansão.
Outro ponto de discórdia entre os diplomatas foi a possível inclusão de uma declaração de apoio às pretensões argentinas de negociar com a Grã-Bretanha a soberania sobre as ilhas Malvinas, alvo de um conflito entre os dois países em 1982.
A proposta argentina não deve ser atendida, já que muitos países africanos fazem parte da Comunidade Britânica.
Redação/BBC