Nascido no primeiro ano da década de 80, tomei gosto pela política muito cedo. Meus avós sempre realizavam verdadeiras festas para seus candidatos preferidos, na maioria das vezes em suas propriedades rurais, onde a informalidade e a alegria davam ainda mais lugar para as pitorescas atuações eleitorais.
Eleição era sinônimo de espetáculo. Camisetas, bonés, churrasco, bebidas, campeonatos de futebol e truco com premiações patrocinadas e muitas promessas de melhoras para o povo — a bem da verdade, quem ali estava queria mesmo era participar, poder apertar a mão do candidato e se sentir notado. Saudosas lembranças do velho Alinor Leite de Barros, então candidato em Alto Paraguai, Nhô Gonça e Tio Zezinho de Nortelândia!
Ainda menino, no governo Júlio Campos — que nunca esquece povo de quem você é —, ouvia sem muito entender as histórias que atravessavam meus ouvidos sobre um citado Dr. Travassos, que não dava moleza aos meliantes; o médico Hilton Taques; o biônico Anildo Lima Barros e Frederico Campos com suas soluções para Cuiabá; e, logo após, ainda residindo na Avenida Ipiranga, ao lado da renomada benzedeira Dona Xona, eu já estava num Del Rey Ghia todo camuflado pelos cartazes pregados com cola caseira: Bezerra Governador.
No Barão, João Batista e Munil Taques; em Jaciara era Seo Márcio Cassiano e em Santo Antônio do Leverger Glorinha Garcia, esposa de um dos maiores jogadores de espanhol na modalidade picote, tudo isso na Varginha. Avançando, antes de desaguar na década de 90, morei em Cáceres e Rondonópolis, e por lá os nomes eram Ninomya Miguel e Percival Muniz, respectivamente. Voltando para os braços da Cidade Verde, via Cidade Industrial, Carlos Gomes, Nereu Botelho e os Irmãos Domingos, de alguma forma ilustravam os muros das casas — sem falar na fama dos Monteiro, Barros, Provatti e da família Baracat, legado inesquecível do filho Nico, hoje abençoando Kalil.
E a maquina política crescia no país. O noticiário já estampava aquele que, triunfante, subiria a rampa do Planalto e, da mesma forma opulenta, de lá despencaria rumo ao magnífico jardim da Casa da Dinda, apenas um dos esplendorosos projetos do saudoso vovô Vilela.
A presença da propaganda política majoritária de vanguarda marcou história; ainda me lembro do Enéas, Affif, Brizola, Maluf, Covas e Lula. Quantos nomes, cores e imagens para uma criança! O pinheiro no adesivo do Senador Jonas, as diretas do Dante e sem dúvida o emblemático Pedra 90 do Jaime Campos, com seus Secretários Tambelini, Belluca e Rodovalho. Saindo do primário rumo ao ginásio, o sobrenome dos colegas eram comuns: Maciel, Brandão, Arruda, Pompeu de Campos, Nunes, Ponce, Spinelli, Ricarte, Romoaldo, Vieira, Garcia, Curvo, Ferreira Mendes, Adrien, Oliveira, Müller, Coutinho, Paes de Barros, Daltro, Correa da Costa, Miranda e os Campos. Sem falar nos professores Éden Capistrano, Wilson Santos, Levi Levi, Mário Nadaf, Douglas “Energia” Samaniego, Aquiles e tantos outros que além de lecionarem no Tia Inês, Expressão, CIN, Master e Pernalonga, eram atuantes na política cuiabana.
Tempos passados onde as lideranças eram poucas, unas em cada bairro, identificadas por suas proezas, assim como Seo Avelino Tavares nos Bairros Praeiro e Senhor dos Passos; amado e inspirador avô, decano imortal do nonsense literário em nossa terra-cerrado.
Antes do final da década de 90, meu primeiro emprego cheirava política. Digitador no setor legislativo da Câmara Municipal de Cuiabá. Acompanhei diversas sessões da Casa ao lado de Fabiana Orlandi e Oscemário Forte Daltro; atento, observava a regência de Luiz Marinho e Malheiros na presidência; as grandes amizades, como a do Senhor Douglas e todos os servidores que peco pela ausência nominal, mas, desde sempre habitam em minha memória, assim como o rasqueado do Gordo, cantado por Pescuma na residência de Jordan Razzini: Roberto França é digoreste, é, é, é, é. Passagens engraçadas são as mais presentes, citando as sátiras do Bateau Mouche e sua tripulação zarpando do Nilo Póvoas.
Acompanhando meu pai, recordo dos encontros no Pingador do cumpadi vereador Vani e Seo Abílio, João Carro, Bom Jardim, Água Fria, do Azul, a Culama, Sosinho, Pí, Mineiro, Gininho, André Cajarana e o finado Bino Catimba; observei, ainda na Chapada dos Guimarães, o palanque de Palma como vice e Moacir Pires e Roberto Nunes, por ali, os mais votados. Lembranças que em Nossa Senhora da Guia, Savinho irmão de Mauro Tuca, lá do Machado e do Aguaçu, das mãos do Coronel Meirelles, sub-prefeito se tornou.
A imagem que se expande hodiernamente é a mesma que os políticos utilizavam lá atrás. A identidade dos nomes citados confunde-se com a própria história de vida, profissão ou região eleitoral dos mesmos. O Carlos Brito do Parque Cuiabá, Mandioca, Juca do Guaraná, Lara o Ás de Ouro — tá até doce no curral de bode, do inefável João Vaz, que depois resolveu “a falar”. A Gazeta do Dorilêo, o Girassol da Cely Almeida, a palma da mão do Maggi, o empresário Mauro Mendes com seus amistosos bonecos infláveis, o Procurador Pedro Taques, o Santa Rosa do Maluf, a UNIC do Chico, a Zaeli do Tião e até o PT do Lúdio.
Mais um período eleitoral, novos e velhos nomes. Doravante, creio que ainda melhores são as antigas lembranças, assim como a advocacia ao lado do inesquecível Franco Querendo, que sempre me dava o status de liderança fortíssima da baixada cuiabana (não faço ideia de onde retirou tal alcunha este meu cósmico amigo), apesar de conhecedor dos ensinamentos geográficos de Paulo Zaviaski, asseverando que nossa Capital está edificada em um vale. Que os novos e velhos nomes possam ainda prosperar em prol desta sociedade.
JOÃO BOSCO RIBEIRO BARROS JUNIOR é advogado – advboscobarros@terra.com.br