Alimento considerado básico na mesa das famílias brasileiras, o leite nosso de cada dia pode causar muitos problemas para a saúde de quem o consome. A Polícia Federal (PF) desarticulou uma quadrilha que adulterava leite longa vida integral de várias marcas, usando água oxigenada e citrato de sódio para aumentar o prazo de validade.
As prisões ocorreram nas cidades mineiras de Uberaba e de Passos. Dos detidos, 26 são ligados a duas cooperativas, que produziam cerca de 400 mil litros diários de leite (a produção nacional é de 68,5 milhões de litros por dia). O outro é do Ministério da Agricultura.
Entre os presos está um químico da cidade de Batatais, em São Paulo, que, segundo a PF, criou a fórmula usada pela cooperativa de Uberaba. O órgão diz que outras cooperativas do País podem estar usando o mesmo método.
Na Copervale, a PF apreendeu cerca de mil litros de uma solução aquosa que seria misturada ao leite. A cada litro, cerca de 8% era constituído dessa mistura (água oxigenada, soda cáustica, ácido cítrico, citrato de sódio, sal e açúcar).
A professora-doutora Mirna Lúcia Gigante, que estuda a área de tecnologia de leite e derivados na Unicamp, afirma que os fraudadores usaram a mistura para conservar e aumentar o volume do leite.
A PF investiga a fraude há quatro meses, acompanhada dos Ministérios Públicos Federal e Estadual, a partir de denúncias. Amostras do leite foram analisadas pelo Ministério da Agricultura e o resultado mostrou alta alcalinidade e baixa acidez. O laudo diz que os produtos analisados são impróprios para o consumo humano. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) vai monitorar as indústrias que utilizam o leite dessas cooperativas.
A PF afirma também que ao menos três fabricantes compravam o produto das duas cooperativas. Os investigados deverão responder por crimes de falsificação e adulteração de produto alimentício, e formação de quadrilha. As penas podem chegar a até oito anos de reclusão.Anvisa não vê grandes riscos
Para técnicos da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, os consumidores não precisam suspender o consumo de leite devido à denúncia de adulteração. Para a gerente-geral de alimentos do órgão, Denise Resende, a quantidade de produtos como soda cáustica e água oxigenada adicionada ao leite é pequena e não há risco de provocar reações.
De acordo com ela, o problema é que o produto não vai apresentar todas as proteínas e nutrientes que estavam previstos. Denise explicou que o leite só seria prejudicial à saúde se tivesse grande quantidade de substâncias impróprias – o que não é o caso.
Fraude antiga
Em depoimentos prestados à Polícia Federal, funcionários das cooperativas acusadas afirmaram que a mistura com soda cáustica era adicionada ao leite longa vida integral há mais de dois anos.
Segundo delegados da Polícia Federal, a rentabilidade da fraude, no caso da Copervale, estava na adição de água para dar volume ao leite. Ele afirmou que a adulteração permitia “enganar” o exame de crioscopia, aplicado para verificar se o leite contém água. Misturadas a ela, substâncias como a soda cáustica geram um pH que altera os resultados do exame. A PF trabalha com o percentual de 10% de adulteração – em um litro de leite, 10% seriam formados pela mistura diluída em água.
Efeitos nocivos
Mesmo consumidas em pequenas quantidades, a soda cáustica e a água oxigenada são prejudiciais ao organismo e podem causar vômitos, náuseas e enjôos. Em grandes concentrações, poderiam inflamar as mucosas do sistema gastrointestinal e causar esofagite e gastrite, de acordo com Dan Waitzberg, presidente do Grupo de Nutrição Humana (Ganep).
Apesar dos perigos envolvidos, ele diz que os produtos não deixam resíduos no organismo, e que apenas quem apresentar sintomas como náuseas, enjôos e vômitos deve procurar um médico. O primeiro passo, porém, segundo ele, é interromper o consumo de qualquer tipo de leite que, comprovadamente, tenha as substâncias.
Waitzberg diz que o risco de efeitos colaterais depende de quem toma e da capacidade de defesa do organismo.
Já o diretor da Associação Brasileira de Nutrologia, Edson Credidio, afirma que essas substâncias não estão autorizadas para o consumo no Brasil e que podem acarretar uma série de problemas.
Agência Unipress Internacional
Por Carlos Antônio