O que era para ser uma noite de diversão, terminou em agressão, sofrimento, humilhação e boletim de ocorrência na Delegacia de Polícia Civil do Cisc Verdão. Essa verdadeira história de terror foi vivida pelas jovens Karoline
Alencar de Oliveira, 22 anos, moradora do CPA-IV, e Ana Karla Alves, 21, moradora do CPA-II, na madrugada de domingo, ao serem agredidas e atiradas para fora da boate Lotus, no cruzamento da rua 24 de Outubro com a Avenida Marechal Deodoro, considerada um dos principais ‘points’ da juventude cuiabana, nos últimos anos.
Karoline e Ana Carla apanharam pelo simples fato de terem esquecido a bolsa na mesa no momento de pagar a conta. “Pelo jeito, esse ‘sapatão’ pretende dar o calote aqui”, acusou um segurança, enquanto intimidava Karoline
Alencar. “Eu apenas tinha esquecido a minha bolsa na mesa, mas fui tratada como criminosa”, lamenta ela, ao citar que houve desrespeito à própria historia do prédio, que por décadas foi residência oficial da família Campos, pertencentes aos ex-governadores Jayme e Júlio Campos.
A festa foi organizada pelo cabeleireiro Coxa Soares, conhecido por promover eventos do gênero em Cuiabá.
Ato contínuo, não satisfeitos em cometerem o crime de discriminação à livre orientação sexual, os seguranças da Lotus partiram para agressão física contra Karol e Ana Carla. Jogadas na rua, elas foram advertidas de que
estavam “proibidas de entrar na Lotus, novamente”.
“Confesso que nunca me senti tão humilhada e ultrajada”, criticou Karoline Alencar, que, nesta terça-feira, ao lado de Ana Carla, passou por exame de corpo delito, no Instituto Médico Legal (IML), para anexar ao inquérito
policial. Em 15 dias, sai o laudo pericial do IML.
Além da ação criminal por agressão, as jovens pretendem entrar com ação judicial de danos morais, contra a Lotus, exigindo indenização.
A diretoria da boate Lotus não quis de manifestar. Coxa Soares nõa foi
localizado por telefone.
‘Filme’ antigo
O que é de se lamentar, no episódio, além da agressão às meninas, é o fato de ter se tornado corriqueiro o fato de clientes serem agredidos em boates e shoppings de Cuiabá. Isso demonstra total despreparo dos responsáveis pela segurança em locais freqüentados pelo público, comprovando também o desrespeito por aqueles que dão lucro às suas empresas.
Em 2007, o bacharel em direito Djalma Ermenegildo Júnior, de 25 anos, então
com 21, foi espancado por espancado por seguranças da boate Z100. Ficou paraplégico. Recentemente, ganhou no Tribunal de Justiça de Mato grosso o direito de receber pensão vitalícia de R$ 3 mil mensais da Z100.
Em 2009, seguranças do Shopping Goiabeiras espancaram até à morte, sem motivo aparente – exceto o fato de a vítima ser pobre, o jovem Reginal Donnan dos Santos Queiroz, 31 anos. A família de Donnan Queiroz continua
desemparada. Porém, o consolo é que todos os acusados de sua morte foram condenados, em júri popular da Justiça de Mato Grosso.