Uma universitária de 22 anos, moradora de Belo Horizonte, que teria sido agredida pelo ex-namorado depois do fim do relacionamento, criou uma comunidade no site de relacionamentos Orkut para denunciar a agressão e pedir justiça. Leonardo Santos Teixeira, 29 anos, foi preso nesta terça-feira, enquadrado na Lei Maria da Penha, mas negou a denúncia.
No último dia 11 de outubro, depois de uma discussão na qual Carla (que pediu para ter apenas o primeiro nome divulgado) diz ter pedido o fim do namoro, ele teria dado um golpe de jiu-jitsu na garota, que chegou a ficar sem respirar por mais de cinco minutos e sofreu derrame nos olhos provocado pela asfixia.
“Ele dormia aqui em casa todos os dias, meus pais o adoravam, ninguém nunca pensou que ele seria capaz de uma barbárie desse tipo”, disse. “Mas algumas semanas antes ele já estava demonstrando muito ciúme, implicava com qualquer coisa, desde o rimel que eu usava pra ir à aula”, contou a jovem.
Durante a conversa, o namorado teria passado os braços pelo pescoço da estudante e lhe aplicado um “mata-leão”, golpe do jiu-jitsu que enforca a pessoa sem deixar marcas. “Cheguei a desmaiar, mas por algum motivo eu voltei e comecei a me debater, não dava para gritar porque com a outra mão ele tampava a minha boca”, explicou. “Eu só pedia para parar, porque estava morrendo. Eu disse que se alguma coisa acontecesse comigo ele iria acabar com a própria vida. Ele respondeu falando que isso ele resolveria com um ou dois anos”.
Para Carla, o ex-namorado tinha plena consciência do que estava fazendo. “A intenção dele era me matar, porque se eu queria terminar com ele, não poderia ficar com mais ninguém. É triste saber que o que acreditei que fosse amor era na verdade uma obsessão”, contou.
Segundo a jovem, a muito custo ela conseguiu se soltar dos braços do namorado: “nessa hora ele ficou meio preocupado porque viu que eu estava muito mal, pedi um copo de água e quando que ele saiu eu consegui trancar a porta. Liguei para uma amiga vizinha e ela desceu com o pai para me buscar”.
Ao chegar na casa da amiga, Carla ligou para o serviço de emergência da polícia, que chegou ao local depois de quase três horas. “Deu tempo dele voltar, ficar na rua, com o rádio no volume máximo, tocando as músicas que gostávamos de ouvir. Aquilo só me trazia mais medo”, disse.
Segundo a estudante, a comunidade criada no site é para protestar contra a impunidade. Chamada de Rosas Negras, a menina registrou todas as providências que precisou tomar para fazer justiça e se sentir mais segura: “além da demora no atendimento, no outro dia era feriado e eu precisei rodar por três delegacias para tirar a guia que me encaminharia ao Instituto Médico Legal, onde seria feito o exame de corpo delito”.
O caso de Carla foi encaminhado ao Ministério Público, que solicitou à Justiça uma liminar para que o ex-namorado dela se mantivesse afastado. A liminar foi expedida pela juíza da Vara Criminal do Fórum Lafayette, Rosângela de Carvalho Monteiro. Como o rapaz não cumpriu a ordem, a magistrada determinou, na tarde desta segunda-feira, a prisão dele.
Nesta terça, a Polícia Civil cumpriu o mandado de prisão. O jovem foi preso na rua da casa onde mora, no bairro Santa Tereza, região leste da capital mineira. Ele disse ao delegado Ramon Eustáquio Silva que a ex-namorada teria tentado suicídio e que estaria transtornada. Ele agora está à disposição da Justiça para a “conveniência da instrução criminal”, enquanto o delegado conclui o inquérito policial e a promotoria formula a denúncia. Por enquanto, ele ficará detido no Centro de Remanejamento de Presos do bairro São Cristóvão, em Belo Horizonte.
Apoio
Na página usada para denunciar a suposta agressão, Carla recebeu inúmeras mensagens de apoio. “Parabéns, a justiça foi feita e ele vai terminar do jeito que merece”, diz uma das mensagens.
Pessoas que não conhecem a jovem também deixam recados de incentivo: “apesar de ter aderido à campanha sem saber ao certo o que lhe aconteceu (fiquei chocada com as fotos), é bom ver suas novas fotos e saber que você está bem”.
Na comunidade criada por Carla, há 2.027 membros e mais de 40 tópicos de dicussão.