Operações feitas pela Polícia Federal no Rio de Janeiro e em São Paulo anteontem e ontem levaram ao grupo do empresário Antônio Petrus Kalil, o Turcão, visto pela polícia como influente bicheiro carioca. Isso fortalece a hipótese de que a origem de uma parte do dinheiro que seria usado na compra dossiê anti-tucanos é de fato o jogo do bicho.
O superintendente da PF em Mato Grosso, Daniel Lorenz, confirmou que “esta é a face mais visível” das investigações no momento.
A hipótese do jogo do bicho foi levantada por duas tiras de papel encontradas junto ao dinheiro com anotações de valores e a referência a duas localidades do Rio de Janeiro, Caxias e Campo Grande. Maços de notas velhas e miúdas – R$ 5 e R$ 10 – foram outro indício de que foram recolhidas em bancas de aposta.
Para conhecer a origem da parte em dólares, a PF vem realizando também operações em cerca de 30 corretoras e casas de câmbio. E confirma que apreendeu no Rio caixas registradoras em seis casas de câmbio. O mesmo foi feito em oito estabelecimentos de São Paulo. E esta ação aponta para mais uma casa em Guarulhos (SP), duas em Curitiba (PR), duas em Porto Alegre (RS), uma em Pelotas (RS), uma em Camboriú (SC), uma em Joinvile e duas em Florianópolis, ambas em Santa Catarina.
Rastreando a outra parte da quantia em reais, conforme Lorenz, a PF nada encontrou em extratos acessados por meio de quebras de sigilo bancário, que, segundo ele, apontam direções, mas não se efetivam como provas concretas de saques.
Com Valdebran Padilha e Gedimar Passos, foram apreendidos R$ 1,7 milhão, sendo R$ 1,1 e US$ 248,8 mil, dia 15 de setembro deste ano.
Perguntado sobre a falta de materialidade que viabilize o indiciamento dos envolvidos na negociata do dossiê, Lorenz diz que as imagens de Hamilton Lacerda, por exemplo, ex-coordenador de campanha de Aloízio Mercadante (PT/SP), entrando no hotel Ibis, com uma mala, não são conclusivas. “Ele disse que levava material de campanha. O então presidente do PT (Berzoini) disse que ele não estava levando isso. Então, temos indícios, mas não provas. Nas imagens ele está curvado, ao levar a mala, sinal de que o produto era pesado. Não estava carregando algodão”, comenta.
O delegado da Polícia Federal Diógenes Curado Filho, que conduz o inquérito do dossiê, deve entregar hoje para a Justiça Federal um relatório parcial das investigações.
Mas a assessoria da PF informou que o relatório deve ser entregue junto ao pedido de prorrogação do prazo de 30 dias para a conclusão do inquérito. Isso significaria que as conclusões sobre a participação de assessores de campanhas petistas e sobre a origem do dinheiro que seria usado na compra do dossiê só devem ser divulgadas após o fim do processo eleitoral.
O deputado Raul Jungmann (PPS-PE), vice-presidente da CPI dos Sanguessugas, disse ontem que o juiz Jefferson Schneider, da Justiça Federal de Cuiabá, defende que parte das investigações tornem-se públicas antes do segundo turno das eleições.
Jungmann conversou ontem por telefone com o juiz, que estabeleceu o prazo de 24 horas para a Polícia Federal encaminhar relatório parcial com as investigações do “dossiegate” à Justiça de Cuiabá.
“Ele (Schneider) disse que sabe da necessidade de que os resultados sejam apresentados antes do segundo turno. Isso vai ajudar a desanuviar o clima político instalado no país”, disse Jungmann.
fonte: dc