O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu liderou neste domingo um coro de autoridades israelenses condenando o banho de sangue na Síria, acusando o Irã e os militantes do grupo xiita libanês Hezbollah, arqui-inimigos de Israel, de cumplicidade na carnificina de cidadãos do país.
"É um massacre cometido não só pelo governo da Síria, mas com a ajuda do Irã e do Hezbollah", declarou o premiê no início da reunião semanal do Conselho de Ministros israelense, segundo um comunicado de seu gabinete. "O mundo precisa ver hoje o eixo do mal
concentrado: Irã, Síria e Hezbollah."
Suas declarações coincidem com as de outros dirigentes israelenses sobre a Síria, entre eles o presidente do Estado judeu, Shimon Peres, que manifestou à rádio pública sua esperança de que a comunidade internacional intervenha em breve no país árabe para deter o banho de sangue.
"Cedo ou tarde será necessário intervir para salvar vidas. Espero que seja cedo", declarou Peres no sábado à noite, quando partia rumo aos EUA. "Tenho muito respeito pelos rebeldes que
saem às ruas para protestar diariamente, enfrentam disparos. Espero que ganhem."
Já o vice-primeiro-ministro israelense, Shaul Mofaz, acusou neste domingo a Síria de cometer genocídio durante a repressão ao levante popular que dura 15 meses, também apelando por uma ação militar contra o vizinho árabe.
Mofaz instou as potências mundiais a derrubar o presidente sírio, Bashar al-Assad, do mesmo modo como foi feito na campanha apoiada por países ocidentais na Líbia, que ajudou os rebeldes locais a depor o ex-líder líbio Muamar Kadafi, morto em outubro.
Por sua vez, o número 2 do Ministério das Relações Exteriores israelense, Danny Ayalon, pediu neste domingo à comunidade internacional que "pare de falar e comece a agir".
Até recentemente Israel vinha demorando para pedir a deposição de Assad, temendo agravar as turbulências na Síria. Os dois países são inimigos, mas nas últimas décadas estão imersos num impasse estável. No entanto, a mídia israelense divulga a cada hora informações sobre a morte de civis na Síria, a indignação da população israelense cresce e as autoridades do país ampliaram suas críticas.
Nas últimas semanas, ministros israelenses pediram duras ações contra a Síria, sem entrar em detalhes. Altas autoridades, falando sob anonimato, confirmam que uma eventual ação poderia ser uma intervenção estrangeira.
Novo líder de grupo opositor
As declarações foram feitas enquanto a violência continua no país árabe e no mesmo dia em que o principal grupo da oposição no exílio, o Conselho Nacional Sírio (CNS), elegeu um dissidente curdo como seu novo líder com a esperança de superar a desorganização e a desunião que vem prejudicando a oposição desde o início da revolta, em março de 2011.
O CNS escolheu Abdulbaset Sieda, ativista de 56 anos que vive há anos no exílio na Suécia, como seu novo líder. Ele era o único candidato a suceder o líder liberal da oposição Burhan Ghalioun, que ficou três meses no cargo.
Na Província de Homs, centro do país, ativistas que bombardeios das forças do governo deixaram ao menos 38 mortos nas últimas 24 horas. O assalto do governo concentrou-se na cidade de Qusair, perto da fronteira com o Líbano.
As novas mortes aconteceram em meio à indignação causada pelo massacre de entre 55 e 78 civis na vila de Qubair, na Província de Hama (centro do país), na quarta-feira. Observadores da ONU que visitaram Qubair afirmaram na sexta-feira ter visto manchas de sangue nas paredes e sentido um "forte cheiro de carne queimada". A chacina aconteceu menos de duas semanas depois de 108 civis, incluindo 49 crianças e 34 mulheres, terem sido executados na região de Houla, Província de Homs.
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Ativistas dizem que a repressão de Assad contra o levante antigoverno deixou 13 mil mortos desde março de 2011, quando começou. Um ano depois do início da revolta, a ONU estimou o número de mortos em mais de 9 mil, mas centenas morreram desde então. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha disse na sexta-feira que 1,5 milhão de civis necessitam de ajuda humanitária na Síria.
*Com Reuters, AP e AFP