O alívio, obviamente, é cauteloso. E nem poderia ser diferente. A escalada de violência pode ter diminuído em Bagdá, onde existe um presença militar americana mais ostensiva, mas a carnificina se dissemina pelo resto do país.
Na quarta-feira, por exemplo, um triplo atentado com carros-bombas deixou mais de 40 mortos e 150 feridos na cidade de Amarah, no sul do país. É uma regiao xiita que até agora escapara de violência sectária em larga escala. As tensões, porém, crescem em uma zona rica em petróleo, na qual facções xiitas lutam por influência à medida em que as tropas britânicas reduzem seu contingente no sul do país.
Já os americanos justamente reforçaram temporariamente suas tropas para congelar a guerra civil e permitir que líderes políticos avancem no processo de reconciliação. O banho de sangue diminuiu, mas a estratégia militar se revelou um fracasso para reverter a desintegração do Iraque em áreas dominadas por milícias, tribos e partidos étnicos e religiosos. Um governo central frouxo é incapaz de assegurar sua influência, muito além de Bagdá, ou mesmo o bastião fortificado que é a “zona verde” na capital.
Joost Hilterman, do International Crisis Group, adverte que o “Iraque está caminhando para se tornar um Estado falido, com uma situação altamente descentralizada e com centros de poder que competem entre si”. Anthony Cordesman, do Center for Strategic and International Studies, em Washington, arremata ser altamente duvidoso que um governo nacional estabilize o Iraque nos próximos cinco anos.
Autoridades militares americanas são mais cautelosas do que os líderes políticos em Washington e expressam preocupação sobre o que irá acontecer no ano que vem quando o contingente dos EUA for reduzido do atual número de 160 mil soldados. A opinião pública americana comprou esta narrativa sobre um cenário menos dantesco no Iraque, mas em larga escala (2/3) insiste em uma retirada parcial ou total das tropas do país.
A narrativa de alívio está tendo um impacto profundo na campanha eleitoral americana. Os democratas preferem falar menos de Iraque para não admitir o sucesso tático do reforço de tropas. Afinal, para eles, quanto pior é melhor em termos eleitorais. Já os republicanos mudaram de assunto. Para eles, parece que a grande guerrra americana agora é contra imigrantes ilegais e não contra insurgentes no Iraque ou militantes da Jihad global. É um vergonhoso terrorismo eleitoral.
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