O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, afirmou nesta segunda-feira que seu país resistirá “até o final” para defender o direito de manter seu programa nuclear, que Teerã alega ser pacífico, em um discurso transmitido pela TV estatal.
“O povo iraniano resistirá até o final e não mudará nada”, declarou Ahmadinejad, em referência às sanções impostas a Teerã pelo Conselho de Segurança da ONU.
O presidente iraniano aconselhou ainda as grandes potências ocidentais a mudarem sua “atitude hostil” contra Teerã. “O que vocês conseguiram no Iraque, no Vietnã, nos territórios palestinos e no Líbano”, questionou Ahmadinejad durante o discurso.
Raheb Homavandi/Reuters
Líder do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, durante discurso em Teerã
Nações ocidentais temem que o Irã converta seu programa nuclear civil em um programa clandestino de produção de armas atômicas. O Irã nega, dizendo que seu programa tem fins meramente pacíficos e visa apenas produzir energia elétrica e combustível nuclear.
Em 9 de abril, Ahmadinejad anunciou que seu país havia alcançado status industrial no programa de enriquecimento de urânio. Ele fez o anúncio presença da imprensa iraniana e internacional na data em que o Irã celebra o “Dia da Energia Nuclear”.
“Não há provas de ilegalidade em nossas atividades”, disse, afirmando que o Irã agiu com transparência ao permitir inspeções da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) no passado.
“Aqueles que nos desafiam usam eles mesmos a tecnologia nuclear”, lembrou Ahmadinejad, em alusão aos membros permanentes do Conselho de Segurança (CS) da ONU –EUA, Rússia, França, Reino Unido e China.
Dúvidas
Apesar do anúncio iraniano, o chefe da AIEA, Mohamed ElBaradei, minimizou ontem a importância da declaração, afirmando que o programa iraniano ” está no começo”, e que apenas centenas das 3.000 centrífugas da plataforma de Natanz já estão em atividade.
No entanto, ele acrescentou que está “inquieto” porque os inspetores da agência não podem confirmar que as atividades iranianas são pacíficas, enquanto pedia o reatamento do diálogo entre Teerã e a comunidade internacional, já que “as sanções não resolverão a disputa”.
“Há uma grande margem de dúvida sobre a afirmação de que existem 3.000 centrífugas. Nós provavelmente teremos mais informações nos próximos dias, com os inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) visitando [a usina de] Natanz”, disse o vice-ministro das Relações Exteriores da Alemanha, Gernot Erler, a uma rádio alemã.
Dois inspetores da AIEA iniciaram uma visita de rotina de uma semana no Irã para vistoriarem a usina de Natanz, onde o país realiza o enriquecimento de urânio. Espera-se que os inspetores ofereçam uma avaliação independente sobre o status do programa.
A Rússia, a potência mais próxima do Irã, negou estar ciente de qualquer nova descoberta tecnológica no programa nuclear iraniano. Diplomatas que acompanham o programa iraniano também expressaram dúvidas sobre a nova capacidade alardeada pelo país.
Sanções
Em 9 de abril de 2006 o presidente iraniano afirmou que o país havia completado com êxito o ciclo de produção de combustível nuclear em laboratório.
Marcelo Katsuki/Fol
mapa do Irã
A ONU aprovou em março sua segunda resolução (1.747) contra o Irã devido à insistência do país persa em manter o programa nuclear. Na resolução, os 15 membros conselho aprovam por unanimidade novas sanções ao país pela manutenção de seu programa nuclear.
Em resposta à resolução, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Manouchehr Mottaki, afirmou que as sanções são “inúteis e ilegais” e que o governo iraniano não mudará seu curso com relação ao programa nuclear.
No início de abril, o porta-voz do Ministério das Relações Exteriores iraniano, Mohammad Ali Hoseini, disse que a suspensão do enriquecimento de urânio “não está de forma alguma na agenda do Irã”. Ele afirma que a exigência contraria as regulações do Tratado de Não-Proliferação Nuclear, do qual o Irã é signatário, que permitem o desenvolvimento de tecnologia nuclear voltada para a obtenção de energia.
“O inimigo quer criar uma guerra psicológica, mas o povo do Irã é consciente e esta medida vai o afetar pouco”, disse o vice-presidente iraniano em alusão à resolução.
FOL