O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, disse hoje ser “impossível” interromper as atividades nucleares do Irã, ignorando as pressões internacionais para que Teerã suspenda o enriquecimento de urânio.
Mas o país islâmico ofereceu garantias de que não tentará fabricar armas atômicas.
Ahmadinejad continuava a resistir às pressões no momento em que chegava ao fim o prazo de 60 dias concedido no dia 23 de dezembro para que o Irã paralisasse seu programa de enriquecimento de urânio.
“Continuaremos com nossos esforços para exercer o quanto antes nosso direito (à tecnologia nuclear)”, afirmou o presidente na cidade de Siahkal, segundo a agência de notícias Isna.
Em vista do final do prazo, a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA), que não conseguiu até agora, após três anos de investigação, ter certeza sobre o caráter inofensivo do programa nuclear do Irã, deve dizer ao Conselho de Segurança da ONU, até quinta-feira, que o país continua com o enriquecimento de urânio.
Potências ocidentais suspeitam que os iranianos estejam tentando desenvolver bombas atômicas sob o disfarce de um programa de energia nuclear para fins civis.
O Irã afirma que deseja apenas garantir uma fonte alternativa de eletricidade a fim de maximizar suas exportações de petróleo e preparar-se para quando as reservas do combustível se esgotarem.
“Dominar essa tecnologia é algo muito importante para o desenvolvimento e a honra de nosso país”, disse Ahmadinejad.
“Valeria a pena paralisar outras atividades por dez anos e concentrar-se apenas na questão nuclear.”
As decisões finais para a área nuclear não são tomadas por Ahmadinejad, mas pelo líder supremo aiatolá Ali Khamenei. De toda forma, nenhum líder iraniano de peso veio a público defender a suspensão do programa nuclear a fim de abrir negociações sobre a concessão, pelo Ocidente, de vantagens comerciais.
O Conselho de Segurança, que dois meses atrás proibiu a transferência de tecnologia nuclear para o Irã, prometeu avaliar a possibilidade de ampliar as sanções se o governo iraniano não congelasse as atividades de enriquecimento de urânio até 21 de fevereiro.
Ali Larijani, principal negociador do Irã para o setor, disse, após reunir-se na terça-feira com o chefe da AIEA, Mohamed ElBaradei, que o governo iraniano daria garantias contundentes, durante eventuais negociações, sobre o fato de que nunca usaria o programa de enriquecimento de urânio para desenvolver bombas.
Diálogo
O ex-ministro de Exteriores iraniano Ali Akbar Velayati, atual conselheiro do líder supremo do país, Ali Khamenei, acredita que é possível encontrar uma via de diálogo com a comunidade internacional que permita ao seu país continuar o enriquecimento de urânio com garantias de que terá uso civil.
Em entrevista publicada hoje pelo jornal “Le Monde”, Velayati diz que o Irã tem direito à tecnologia nuclear civil, ao mesmo tempo em que se compromete a garantir que o programa não terá “derivações militares”.
“Entre esses dois eixos, tudo pode ser tratado na mesa de negociações”, afirmou o diplomata, que acredita que a simples interrupção do enriquecimento de urânio “não regularia nada”.
Situação perigosa
O primeiro-ministro da Grã-Bretanha, Tony Blair, afirmou que o Irã parecia inclinado a adquirir armas nucleares mesmo que dando sinais conflituosos em resposta às sanções e ao envio, pelos EUA, de mais forças militares à região do golfo Pérsico.
“Os comunicados vindos do Irã são contraditórios. Mas parece que a ambição deles por armas nucleares continua a existir”, afirmou Blair ao Parlamento, em Londres. “Precisamos manter a pressão porque se trata de uma situação muito perigosa.”
Lamentável
A secretária de Estado americana, Condoleezza Rice, qualificou de “lamentável” que o Irã não tenha cumprido as exigências da comunidade internacional, mas expressou sua confiança em que Teerã reavalie sua decisão em vez de escolher a via do confronto.
Rice, que viajou para Berlim para participar de uma nova reunião do Quarteto para o Oriente Médio, lembrou após um encontro bilateral com seu colega alemão, Frank-Walter Steinmeier, que o prazo dado pelo Conselho de Segurança ao Irã termina hoje sem que tenham sido “detectados sinais positivos de Teerã”.
“Vamos manter consultas com a União Européia e com nossos parceiros sobre como proceder”, respondeu Rice a uma pergunta sobre quanto tempo a comunidade internacional concederá ao Irã para que cumpra os requisitos fixados.
Recomendação
O secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU), Ban Ki-moon, fez um apelo nesta quarta-feira para que o Irã cumpra o pedido do Conselho de Segurança.
“Eu recomendaria fortemente às autoridades iranianas a cumprir a resolução do Conselho de Segurança e continuar a negociar com a comunidade internacional, particularmente com a União Européia”, disse Ban em coletiva em Berlim.
O Conselho de Segurança não deve tomar nenhuma decisão antes de uma reunião do quadro de diretores da AIEA marcada para acontecer entre os dias 5 e 9 de março. De toda forma, o tempo restante para dialogar com o Irã é pequeno, disse um diplomata que trabalha junto à agência internacional.
US