Escutas telefônicas gravadas, em 1° julho de 2015, por intermédio do Núcleo de Ações de Competência Originária (Naco) e do Grupo de Atuação Especial Contra o Crime Organizado (Gaeco) mostram uma intensa movimentação de empresários, servidores e deputados estaduais, tentando combinar o que iam dizer em depoimento coercetivo (quando a pessoa é obrigada a depor) sobre o esquema criminoso que teria desviado cerca de R$ 10 milhões dos cofres da Assembleia Legislativa, como aponta "Operação Ventríloquo". Nesta mesma data, a juíza Selma Rosane Arruda, da Sétima Vara Criminal de Cuiabá, havia decretado a prisão do ex-presidente da Assembleia Legislativa, José Geraldo Riva.
As conversas estão no relatório de 40 páginas divulgado, nesta quarta-feira (23), pelo Ministério Público do Estado (MPE) que denunciou o envolvimento dos deputados Romoaldo Junior (PMDB), Mauro Savi (PSB) e Gilmar Fabris (PSD), além de outras nove pessoas envolvidas na suposta organização criminosa.
De acordo com o documento, o dono das empresas FH Comércio de Combustíveis, Shop Comércio de Combustíveis e Rodo Shop Transportes &ndash supostamente usadas para "lavar o dinheiro" para Romoaldo – José Antônio Lopes, mais conhecido como "Toninho", demonstra preocupação e telefona para orientar seu sócio Sidney, que na ligação é identificado como Rosa, de como agir diante do Gaeco. "O Rosa se for um negócio, eu fiz uma doação na campanha de Romoaldo, mas foi tudo dentro da lei. Se falarem alguma coisa, você diz que não sabe de nada e joga tudo pra cima de mim". Em seguida, Toninho reforça a orientação e encerra a ligação.
Depois liga para esposa Patrícia, sócia na empresa RedeShop e Rodoshop, e avisa que ela terá que depor na sede do Gaeco. Ela se irrita ao saber da doação de R$ 200 mil a Romoaldo Júnior, na campanha de 2012. Quer saber de onde veio o dinheiro. Por que você fez a doação amor?, Não tinha dinheiro mesmo", Toninho responde que depois falaria sobre o assunto.
&lsquoRosa&rsquo também se irrita com Toninho, desta vez, em outra ligação. "Rapaz, pelo amor de Deus, trabalha direito. Só tá trabalhando errado!, critica o empresário.
Para os promotores, o áudio demostra que José Antonio Lopes usou a empresa para "lavar o dinheiro" desviado da Assembleia repassando para Romoaldo de forma lícita como doação eleitoral. Os valores seriam para quitar dívidas de campanha.
Por outro lado, Ana Paula Ferrari Aguiar, funcionária e acusada pelo MPE de ser laranja do deputado Gilmar Fabris, teve que explicar sobre o recebimento de R$ 95 mil, incompatível com sua renda. O valor foi relatado por José Riva como propina durante seu depoimento, porém, afirmou que não tinha convicção que o colega tinha conhecimento que o valor era de propina.
Mas gravação do Gaeco mostra que no fim do dia 1º de julho o deputado fez uma ligação para sua funcionária questionando, logo após o depoimento. Você não deixou aqui", então Ana responde: ainda não, não pegou ainda, mas irá deixar?. Fabris responde: está bem, encerrando a ligação.
Neste caso, o Ministério Público questiona. Ora, se [Fabris] o mesmo não tinha ciência da origem ilícita dos recursos, por que toda a utilização de exaustiva e trabalhosa &lsquotriangulação&rsquo para recebimento dos valores?, diz a denúncia.
Os documentos apresentados por João Carlos de Gênio detectaram que Mauro Savi, usou a propina paga em cheque por Joaquim Fábio Mielli (este um dos delatores do esquema) para quitar dívidas relacionadas à compra de gado e material genético bovino. O MP aponta que Savi usou cerca de R$ 259 mil em cheque, todos em nome de Mielli.
DENÚNCIA
O Ministério Público do Estado de Mato Grosso denunciou os deputados estaduais Romoaldo Aloisio Junior (PMDB), Mauro Savi (PSB), Gilmar Fabris (PSD) e outras nove pessoas pelo desvio de R$ 10 milhões investigados pela Operação Ventríloquo. Para o MPE os investigados juntamente com o ex-presidente do Legislativo, José Riva, também incluso no processo, constituíram organização criminosa estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, com objetivo de saquear os cofres públicos.
 
 
 
 
 
 
Com RepórterMT