O inverno mal começou e o comércio de artigos de vestuário está em plena liquidação. Os descontos são polpudos, chegam a 60%, mas nem esse apelo anima o consumidor. A irregularidade do clima tirou o brilho das liquidações. Já há lojas vendendo modelos da próxima estação. “Este inverno decepcionou. Não tivemos frio, apenas duas semanas de baixas temperaturas em maio”, afirma Kelly Lopes, secretária-executiva da Câmara de Dirigentes dos Lojistas (CDL)do Bom Retiro, em São Paulo. O Bom Retiro é um dos principais pólos de confecções do País e reúne cerca de 1 mil empresas, entre atacadistas e varejistas.
A expectativa dos empresários do pólo era faturar com o inverno até 8% mais na comparação com igual período de 2006. Até agora, no entanto, ampliaram as vendas em 5%. Kelly diz que as lojas da região anteciparam as liquidações no atacado e no varejo para desovar uma sobra de produtos 10% maior na comparação com o mesmo período de 2006.
“Começamos a liquidação cerca de 20 dias mais cedo”, afirma Thiago Kubiaki, gerente da Loony, confecção especializada em jeans, com três lojas, uma no Bom Retiro e duas no Brás, outro pólo de confecção. Apesar dos descontos oferecidos pela rede, entre 40% e 60%, bem superiores aos do ano passado que foram de 30%, Kubiaki diz que o desempenho ficou um pouco abaixo do esperado.
CAUTELA
A frustração das expectativas ampliou a cautela para produção da próxima coleção. “Vamos fabricar entre 8% e 10% menos que o inicialmente previsto para a próxima estação”, diz o gerente da empresa. A Malagueta, outra confecção feminina, com duas lojas no Bom Retiro e uma no Brás, desde o começo de junho começou a promover os estoques, conta o proprietário, Luís Yoon. “O inverno foi muito curto”, reclama. Ele diz que já tem artigos de primavera na loja e que para impulsionar as vendas renova a cada 15 dias os lançamentos. “Temos sempre novidade.”
Essa também é a fórmula adotada pelas grandes redes. Luís Elísio de Melo, diretor de Operações das Lojas Renner, diz que a cada 15 dias tem itens novos. Com uma liquidação que começou em 28 de junho, sete dias depois da entrada do inverno, e termina hoje, o executivo conta que a grande virada de coleção deve ocorrer nas próximas semanas.
Melo admite que a época de grandes ofertas foi antecipada este ano, mas ressalta que o desempenho da estação ficou dentro planejado. “Trabalhamos direitinho.” Com 87 lojas espalhadas pelo País, maioria nas regiões Sul e Sudeste, Melo explica que houve um desequilíbrio entre as regiões. No Rio e em Minas não teve inverno; em São Paulo, calor e frio se alternaram. Só no Sul houve frio.
Apesar de a maioria ter antecipada as promoções, a liquidação conjunta dos shoppings está mantida. A partir de quarta-feira da próxima semana, a Associação dos Lojistas de Shoppings (Alshop) inicia a Liquida São Paulo. O evento vai reunir cerca de 15 shoppings e termina no dia 29 deste mês. “Já temos 12 shoppings confirmados”, diz o presidente da entidade, Nabil Sahyoun. A expectativa é de que, com descontos de até 60%, o faturamento das lojas cresça entre 9% e 11% na comparação com igual período de 2006.
“As liquidações conjuntas promovidas pelos shoppings estão perdendo força”, afirma o economista da Associação Comercial de São Paulo (ACSP), Emílio Alfieri. Normalmente, lembra, as liquidações de inverno começam depois do Dia dos Pais, que é comemorado no segundo domingo de agosto.
Os números da ACSP mostram, no entanto, que, mesmo com os descontos sobre o preço à vista, o consumidor está preferindo pagar a prazo, já que os juros estão em queda e os prazos dos financiamentos cada vez mais longos. Na primeira quinzena deste mês por exemplo, as vendas a prazo cresceram 7,5% ante o mesmo período de 2006. Já as consultas para pagamento com cheque, a modalidade mais usada nas liquidações, cresceram 5,7%.