Desde que a crise financeira norte-americana começou a se disseminar pelas
economias mundiais, o sinal de alerta foi acionado principalmente para que
medidas preventivas fossem realizadas pelos Bancos Centrais, como a quê o
Brasil adotou recentemente ao injetar R$ 100 bilhões de compulsório junto às
instituições bancárias . Mas e em relação ao agronegócio, quais são os
possíveis impactos previstos e, propriamente, quais seriam os efeitos mais
imediatos sobre a agricultura do Centro-Oeste, sobretudo em relação à
produção de grãos no Mato Grosso?
Conforme destaca o superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia
Agrícola (IMEA), órgão ligado a Famato, Seneri Paludo, o principal reflexo
do setor é em relação a redução de créditos rurais.
No Estado de Mato Grosso, por exemplo, ele explica que devido a esse
encolhimento de concessão de crédito ao produtor que já vinha acontecendo
até mesmo antes da crise – a próxima safra – passou a ficar comprometida.
Seneri revela que para o plantio das três principais culturas (soja, algodão
e milho) para a próxima safra serão necessários investimentos em torno de R$
12,2 bilhões.
“Infelizmente a crise já afetou o plantio dessa próxima safra. Entre as
primeiras providências que considero importante para abrandar os efeitos da
crise é reduzir o capital a ser investido nas tecnologias. Conseqüentemente,
isso refletirá em menor produtividade e menor produção”.
De acordo com o presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato
Grosso (Famato), Rui Prado, entre outras medidas de se tentar amenizar a
atual situação do produtor é conseguir o prolongamento do seu endividamento.
Prado, defende inclusive, que o governo federal disponibilize uma linha de
crédito que atenda o produtor rural sem que ele necessite passar pelas
agências financeiras, que têm sido um entrave para o setor.
SAFRA 2009 – Conforme analisa o superintendente do Imea, o ano de 2009 será
atípico dos outros anos e deverá apresentar um pouco mais de dificuldade.
Ele destaca que superar as restrições ao acesso ao crédito rural, o alto
custo da produção e o número elevado de endividamento estão entre os
principais desafios para o próximo ano. Isso sem contar que o produtor terá
que torcer por um fator climático positivo para que tudo corra relativamente
bem. “Para o milho e o algodão, o cenário ainda é pior, estima-se que estas
duas culturas devam sofrer redução de área de 20% e 19% respectivamente”.
PECUÁRIA – Segundo o consultor em pecuária da Federação da Agricultura e
Pecuária de Mato Grosso (Famato), Luiz Carlos Meister, em princípio a crise
financeira global não acarretará em maiores impactos ao setor.
Meister atribui o fato a alguns aspectos, como: a necessidade de bois para
abate em curto prazo; a ausência de carne bovina em quase todos os
continentes e o consumo interno em torno de 80% da produção nacional.
“Estamos concentrando nossas exportações para a Europa que por todos esses
impactos econômicos poderá ter uma redução do consumo da carne. No ano
passado, por exemplo, conseguimos exportar um volume significativo e isso
nos deu uma importante abertura e credibilidade para expandirmos a
comercialização para outros mercados como é o caso dos países do Oriente
Médio”.
Em relação à indústria frigorífica, na opinião do consultor de pecuária do
IMEA, Otávio Celidônio, os frigoríficos que já não estavam em situações
favoráveis devido à baixa oferta de gado, devem enfrentar novas dificuldades
pela frente. Ele diz que o pior momento vivido pelos frigoríficos em 2008
foi em julho, quando o preço da carcaça era 83% mais cara que o preço médio
de um boi gordo vivo (considerando 52% de rendimento de carcaça).
“No mês passado (setembro) esse diferencial foi de 92%, três pontos
percentuais acima da média do ano que foi de 89%. Nas duas últimas semanas
de outubro, a carne no atacado subiu e o spread foi para 104%, maior valor
do ano, indicando que a demanda ainda está aquecida”.
EXPORTAÇÕES – Conforme o superintendente do Imea, Seneri Paludo, mesmo com
toda essa turbulência ocasionada pela crise norte-americana, as exportações
do agronegócio nacional não deverão ser afetadas em curto prazo.
“Há apenas uma preocupação do setor mensurada em médio prazo e longo prazo.
Só se a crise econômica continuar persistindo e se espalhando, somente neste
caso, podemos ter uma redução do consumo e, conseqüentemente, uma redução
significativa na exportação. Mas o ponto principal de tudo isso é o reflexo
que se terá pela liberação de crédito. Porque, sem crédito rural ficará
difícil produzir e atender inclusive, a demanda do mercado interno”.
Flávia Porfirio