Quatro em cada cinco mulheres já sofreram ou sofrerão pelo menos um episódio de infecção do trato urinário, também chamada de cistite ou infecção urinária, durante a vida. Embora os sintomas da doença possam ser facilmente identificados e o tratamento seja simples na maior parte dos casos, a cistite merece atenção. Isso porque, se não for tratada adequadamente, pode evoluir e, além da bexiga, passar a prejudicar os rins.
A infecção urinária acontece quando bactérias provenientes do intestino passam a colonizar o trato urinário, especialmente a bexiga. Os sintomas incluem dor e ardência ao urinar e vontade de ir ao banheiro várias vezes por dia, embora saia um volume pequeno de urina a cada micção. Também podem ocorrer dores abdominais e sangramento ao urinar. A doença afeta homens e crianças, mas atinge principalmente as mulheres, porque a anatomia do corpo feminino favorece a migração dessas bactérias, já que tem a uretra mais curta e uma maior proximidade entre a vagina e o ânus.
Entre as mulheres que já tiveram cistite, uma parcela considerável – cerca de um terço – sofre episódios recorrentes da doença. Ou seja, ao menos duas infecções em um período de seis meses, ou três infecções ou mais durante um ano. De acordo com Márcio Averbeck, chefe do Departamento de Urologia Feminina da Sociedade Brasileira de Urologia, infecção urinária recorrente, em geral, não é indício de que a mulher está com uma doença mais grave. "A paciente simplesmente tem uma maior tendência ao problema", diz.
Essa propensão pode ser explicada de diversas formas. Por exemplo, o hábito de não ir ao banheiro sempre que há necessidade de urinar. "Além disso, algumas mulheres não relaxam a musculatura ao urinar e não esvaziam a bexiga completamente. Isso é importante para jogar fora as bactérias que possam ter chegado ao trato urinário", afirma o urologista Flávio Trigo, coordenador do Centro de Tratamento de Incontinência Urinária do Hospital Sírio-Libanês.
Outros fatores que favorecem a migração das bactérias intestinais à bexiga incluem a falta de hidratação — médicos recomendam a ingestão de pelo menos 1,5 litro de água por dia —, higiene inadequada da área genital e constipação intestinal. Além disso, existem pacientes cuja infecção urinária é desencadeada na relação sexual. Nesse caso, as bactérias intestinais que migraram para a parede da vagina são levadas ao trato urinário. Por isso, muitos médicos recomendam que a mulher sempre urine após o sexo para eliminar os microrganismos e diminuir a probabilidade de eles se propagarem na bexiga.
Tratamento – A cistite pode ser diagnosticada pelos sintomas clínicos apresentados pela mulher. Depois, a confirmação da infecção e o tipo de bactéria que causou a doença são confirmados em um exame de urina que fica pronto entre dois e três dias. É comum, porém, que os médicos já prescrevam o antibiótico antes de o resultado ficar pronto para combater a infecção o quanto antes. "Caso a bactéria que causou a cistite não seja sensível ao medicamento prescrito, troca-se o remédio", diz Averbeck.
No caso de pacientes que têm cistite recorrente, o médico pode recomendar um tratamento prolongado com o uso de antibiótico em doses menores, ou profiláticas. Segundo Averbeck, o período de tratamento diminui os casos de cistite em cerca de 90%. No entanto, uma parte das pacientes (40% aproximadamente) volta a ter infecção com o fim do uso de antibiótico. Nesses casos, indica-se uma vacina via oral que fortalece o sistema imunológico Esse tratamento costuma durar nove meses no total e, de acordo com o médico, reduz os episódios de cistite em 30%.
Revista Veja
Fontes: Flávio Trigo, coordenador do Centro de Tratamento de Incontinência Urinária do Hospital Sírio-Libanês; Luciano Nesrallah, urologista e diretor do Instituto da Próstata e Doenças Urinárias do Hospital Alemão Oswaldo Cruz; Márcio Averbeck, chefe do Departamento de Urologia Feminina da Sociedade Brasileira de Urologia