Até que ponto o grau de desaprovação de um governante reflete a mobilização por mudança de uma sociedade? Essa parece ser a questão central dos debates após a divulgação da pesquisa que sinalizou uma impopularidade recorde de Dilma Rousseff. Críticos mais inflamados começaram a falar em impeachment, enquanto aliados planejam uma ofensiva de comunicação para atenuar os estragos. Vergada por uma rejeição sem precedentes entre presidentes em início de mandato, Dilma é vista pela maioria dos brasileiros (60% deles) como alguém que mentiu deliberadamente para vencer nas urnas e que depois de consumada a reeleição, com a soberba habitual, mostrou a verdadeira face dos fatos que antes tentava encobrir enquanto acusava adversários de terrorismo. A realidade nua e crua trouxe medidas que ela garantia não tomar “nem que a vaca tussa”. E expôs ao mesmo tempo, sem retoques e sem a embalagem marqueteira dos programas de campanha, uma mandatária com claros sinais de hesitação e incompetência na condução do Executivo, isolada no poder, fazendo de conta que críticas e acusações não eram com ela.
Em atos e palavras, a chefe da Nação foi ambígua e fugiu de suas responsabilidades pelos problemas, atribuindo a eles – como sempre fez – razões alheias a sua vontade. Por essas e outras é que dobrou o número daqueles que veem o seu governo como ruim ou péssimo, enquanto caiu pela metade a quantidade dos que avaliam a gestão como boa ou ótima. Em outro levantamento, o registro mais alarmante para os aliados das hostes petistas que lhe deram respaldo: um em cada cinco eleitores de Dilma, tomado por um sentimento de frustração e desencanto, não repetiria o voto. Estão arrependidos e temem pelo pior com o País sob o seu comando. Em suma: no hiato de apenas dois meses, Dilma, segundo as pesquisas, construiu uma imagem de desonesta, falsa e indecisa. Quase um desastre completo para uma autoridade pública. Marca difícil de apagar, mesmo com a máquina da comunicação oficial vendendo o mantra de que tudo não passa de intriga da oposição.
Seria natural, portanto, que nesse ambiente de insatisfação geral ocorresse o recrudescimento dos protestos contra a sua gestão. E eles estão nas ruas e nas rodas de conversas, em vários segmentos da sociedade. Para além dos apupos aqui e ali, uma grande manifestação em quase todo o País está agendada para o próximo 15 de março com a bandeira “Fora, Dilma!”. É evidente que há uma enorme distância entre o anseio de muitos e o processo de suspensão de um mandato presidencial cuja titular foi levada democraticamente ao posto. Qualquer movimento no sentido de impeachment não coadunado com os princípios constitucionais soaria como golpismo – teria, antes de tudo, de estar baseado em evidências criminais de responsabilidade presidencial previstas em lei. Mas, da mesma maneira, é igualmente legítimo que o soar da inquietação dos brasileiros seja ouvido em alto e bom som e que daí decorram respostas à altura do que almejam e do que lhes foi prometido. Afinal, em última análise, em uma democracia deve ser dos cidadãos o direito de julgamento sobre seus representantes.
Site:IstoÉ Carlos José Marques