A agricultora Maria Lúcia Braga tem 36 anos e viveu 16 deles em cárcere privado na cidade de Uruburetama, a 120 quilômetros de Fortaleza. O acusado pelo crime é João Almeida Braga, irmão de Maria Lúcia. O isolamento forçado terminou há 20 dias e foi divulgado ontem pela polícia. 
João, de 48 anos, prendeu Maria Lúcia em um quarto escuro quando descobriu que a irmã, ainda solteira, havia engravidado. No dia 9, policiais a resgataram e ontem o acusado foi preso, por cárcere privado e maus tratos. O bebê de Maria Lúcia, nascido em 2001, foi doado na época a outra família.
Segundo Harley Filho, delegado responsável pelo caso, o cárcere foi descoberto após uma denúncia. Tivemos de romper dois cadeados e arames para tirá-la do cativeiro. Deu trabalho, pois, para ter acesso ao quarto, tivemos de passar por um terreno que tem três casas.
No escuro
O quarto de Maria Lúcia, contou o delegado, tinha apenas uma rede e um pano usado como lençol. Não havia banheiro. O odor de fezes e urina tomava conta do local, descreveu Harley Filho. Ela era mantida nua no quarto.
Segundo depoimentos de parentes de Maria Lúcia, ela tinha duas refeições diárias &ndash uma às 10 horas e outra entre 15 e 16 horas. Nas poucas vezes em que alguém abria o quarto, ela tentava escapar. O cativeiro não tinha eletricidade e a janela sempre ficava fechada.
Maria Lúcia foi levada ao hospital da cidade e agora está na casa de uma família, onde, segundo a polícia, passa bem. Como perdeu a capacidade de falar, ela se comunica pela escrita. Aos poucos ela está recuperando a fala, afirma Harley Filho.
O filho entregue a doação, hoje com 16 anos, foi localizado pelos policiais. Vamos com calma para não gerar mais traumas, diz o delegado.
Os pais da vítima são idosos e debilitados, de acordo com a Polícia Civil, e João cuidava das finanças da casa. Ele argumentou que o encarceramento era necessário para que a irmã não engravidasse novamente. Maria Lúcia teria ficado grávida após o fim de um relacionamento. O término também teria causado problemas psicológicos à jovem, que tinha uma vida normal antes de ser aprisionada. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo./Istoé