A princípio o título pode parecer bizarro mas acredite, a confusão de sexo é ainda maior. O transgênero argentino Alexis Taborda, que nasceu mulher, mas trocou de gênero e está grávido de oito meses, se casou nesta sexta-feira com a namorada Karen Bruselario, que nasceu homem, mas também fez a alteração do gênero.
Apesar da troca de identidade, reconhecida pela Lei de Identidade de Gênero argentina, aprovada em maio do ano passado, ambos mantiveram os órgãos sexuais, o que possibilitou a gravidez de Taborda.
A menina Gênesis, o bebê concebido com Karen, deve nascer no fim de dezembro em um parto cesariana. Taborda será o primeiro caso na Argentina de um homem a dar à luz.
A cerimônia de casamento civil, que contou com a família e amigos do casal transexual, aconteceu no registro civil da cidade de Victoria, na província de Entre Rios, no leste do país, a 360 quilômetros de Buenos Aires.
“Este é um dos melhores momentos da minha vida e espero que agora nos aceitem como somos”, disse Karen mostrando a certidão de casamento.
Alexis, 26, e Karen, 28 anos, decidiram se casar depois de um ano e meio de namoro, que começou em Buenos Aires durante a sua participação em uma manifestação em apoio à Lei Identidade de Gênero em maio do ano passado.
Karen estava convencida de que Taborda era um homem e estava acompanhando seus amigos. “Então, ele me disse da sua condição, mas aí já tinha começado tudo”, admitiu a noiva.
“Eu não vou amamentar, vou tirar o leite e será Karen quem vai dar a mamadeira. Ela é a mãe”, disse Taborda.
“Nesta fase da gravidez eu me sinto cansado, e admito que me falta o instinto maternal. Mais além do amor pela Gênesis, quando ela se mexe eu sinto que tenho algo estranho no meu interior”, reconheceu em uma entrevista dias atrás, segundo o “Clarín”.
O casal também tentou concretizar sua união na Igreja Católica, mas tanto a paróquia de Nossa Senhora da Aranzazú, em Victoria, como o Bispado de Gualeguaychú, em Entre Rios, responderam que o sacramento não seria possível devido às personalidades sexuais que o casal adotou.
O padre de Victoria, Raul Benedetti, disse à Agência Efe que não pode casá-los porque têm sexo autopercebido distinto do natural, mas agem como a natureza lhes dotou. A que escolheu ser mulher está sendo homem e o que escolheu ser homem está gerando um filho. “Há uma contradição entre o documento e a pessoa. Se eles quiserem se casar com o nome da pia batismal e aceitar que o pai é o homem e a mãe é a mulher, não há nenhum problema”, disse o padre.
Fontes próximas ao casal disseram que, após a recusa, Karen escreveu ao papa Francisco pelo Twitter solicitando a autorização para o casamento na Igreja, mas ainda não obteve resposta.
No entanto, Benedetti disse que a Gênesis poderá ser batizadas se seus pais solicitarem.
Inclusive, Benedetti abençoou o ventre de Taborda. O padre disse que “não há problema com a gravidez” e decidiu benzer o casal porque “é uma coisa normal e comum como tantos outros” casos.
“Todos os dias 15 do mês é dada a benção às grávidas. Uma vez eu os convidei e eles vieram”, disse nesta sexta-feira à Agência Efe o pároco.
A festa do casamento será realizada no sábado (30). Apesar de não se casarem na Igreja, o casal vai sair para a festa das portas da paróquia de Nossa Senhora de Aranzazú, com a noiva vestida de branco.
“No sábado, ainda que não nos casem na igreja, eu vou estar vestida de branco para celebrar a felicidade de sermos marido e mulher”, disse Karen ao “Clarín”.
A “National Geographic” desembarcou na cidade há alguns meses para mostrar ao mundo a história de amor, segundo o “Clarín”. O material produzido terminará com o nascimento de Gênesis.
Fonte: Folha de S.Paulo