A crise aérea por que passa o Brasil teve início com a queda, na região Amazônica, de um boeing da Gol, após se chocar com um jato Legacy, matando 154 pessoas, em setembro de 2006. A tragédia completou um ano e não teve uma solução.
Só depois do acidente com o Airbus A-320 da TAM – o maior da história da aviação brasileira, com 199 vítimas fatais, que fazia o vôo 3054, de Porto Alegre a São Paulo, em 17 de julho deste ano, quando o aparelho atravessou a pista do aeroporto de Congonhas e se chocou contra um prédio da própria companhia, é que algumas medidas eficazes foram colocadas em prática.
Em 1º de outubro, por exemplo, as empresas aéreas começaram a operar uma nova malha aérea nacional, que restringiu as operações em Congonhas. Com isso, vôos tiveram rotas e horários alterados.
Espaço aéreo brasileiro ameaçado
O presidente da Federação Internacional de Controladores de Tráfego Aéreo (Ifatca), Marc Baumgartner, declarou que um novo acidente aéreo no Brasil “é uma questão de tempo”. A afirmação provocou arrepios, preocupação e indignação em vários segmentos do governo e da sociedade. Para o ministro da Defesa, Nelson Jobim, a manifestação da federação faz parte de um jogo corporativo:
– Essas declarações têm um objetivo político de criar um ambiente para resolver questões salariais.
Em matéria publicada pela BBC Brasil, Baumgartner afirmou que “as Forças Armadas brasileiras investiram muita energia para prender e perseguir os seus próprios funcionários. Mas nenhuma energia para corrigir as falhas em seu sistema (aéreo)”.
O presidente do Ifatca acrescentou que o conjunto apresenta falhas e os radares não captam os aviões constantemente. Jobim, no entanto, garantiu que “há segurança no espaço aéreo brasileiro e que todos os aparelhos são monitorados”.
De acordo com o diretor de Segurança de Vôo do Sindicato Nacional dos Aeronautas, comandante Carlos Camacho, o risco de um acidente aéreo faz parte da natureza do negócio, mas a situação do setor no Brasil é preocupante, porque existem elementos agravantes.
– A declaração do Baumgartner não pode ser encarada como uma especulação. As palavras dele revelam a preocupação de uma categoria formada por profissionais altamente qualificados.
Um ano de problemas
– As iniciativas adotadas pelas autoridades até agora podem ser consideradas paliativas, pois ainda existem muitas medidas a serem implementadas. É bom que se destaque que os problemas diminuíram porque ocorreu uma retraída do mercado após a tragédia em Congonhas – analisou o comandante Camacho.
O tráfego aéreo brasileiro chegou a ser paralisado devido a um movimento dos controladores de vôo do Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle do Tráfego Aéreo 4 (Cindacta 4), com sede em Manaus, em 30 de março. O caso ainda tramita na Justiça Militar.
Dia do Aviador
Em 23 de outubro, é comemorado o “Dia do Aviador” porque foi nesta data, em 1906, que Santos Dumont decolou com o “14 Bis”, em Paris (França). Foi o primeiro vôo de um aparelho mais pesado que o ar. Depois de um século, na terra do “Pai da Aviação”, o setor está longe do “céu de brigadeiro”.
– Os aeronautas estão preocupados com toda essa situação. Além dos aspectos legais, das iniciativas do governo e de outras questões, a categoria gostaria de ver mudanças na cultura das empresas, onde a segurança fosse a primeira palavra – afirmou o comandante Carlos Camacho.
Agência Unipress Internacional