Especialistas ouvidos pela Jovem Pan apontam que Putin perdeu força e está enfraquecido; formação de novo bloco, focado em interesses geopolíticos, está surgindo em torno de Pequim e Washington
Há um ano, a invasão russa à Ucrânia acelerou a transição hegemônica mundial e mudou a lógica da economia internacional. A partir do momento em que as tropas de Vladimir Putin adentraram ao território ucraniano em 24 de fevereiro de 2022, uma série de consequências foram acontecendo, sendo uma delas a formação de novos blocos em torno de Washington e Pequim. Mesmo sem serem os protagonistas, os países serão os que mais devem colher frutos positivos desta guerra. A China, que se vê como a primeira potência mundial em 2049, se pergunta, assim como os Estados Unidos, como inserir esta guerra em sua agenda. Apesar de não ter declarado oficialmente, o regime chinês apoia a Rússia, enquanto os norte-americanos demonstram total apoio ao ucranianos, inclusive mandando armamentos para que eles possam se defender. Essa forte presença de chineses e norte-americanos faz com que os russos, detentores de um arsenal nuclear maior do que o da China, corra o risco de ser relegada ao nível de potência subordinada. A União Europeia, por outro lado, vê neste conflito um momento decisivo para se firmar como terceira força mundial ou virar um mero peão de Washington. “Mecanicamente, o final da guerra trará um enfraquecimento e um desgaste da Rússia e da Europa. Os dois grandes vencedores poderiam ser os Estados Unidos e a China”, resume, em declarações à AFP, Pierre Razoux, da Fundação Mediterrânea de Estudos Estratégicos (FMES).
Recentemente, o chanceler alemão Olaf Scholz escreveu um artigo para a Foreign Affairs condenando a separação do mundo em blocos. O doutor em Estudos Estratégicos Internacionais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e consultor político Guilherme Thudium explica que essa é uma “realidade que veio para ficar”. “Quem tende a se beneficiar dela são as potências não-alinhadas ou multi alinhadas, que reterão maior autonomia, o que não parece ser o caso da Alemanha”, diz em entrevista ao site da Jovem Pan. Ásia Central, Cáucaso, Bálcãs, África, Indo-Pacífico são regiões que enfrentam lutas silenciosas de influência (econômica, militar ou diplomática) entre potências como a China, a União Europeia, os Estados Unidos, a Rússia ou a Turquia. O conflito fragilizou, por exemplo, a posição russa em suas antigas repúblicas da Ásia Central e deu à Turquia grandes oportunidades diplomáticas. Mas, isto significaria uma divisão total do mundo? No contexto atual, países emergentes, como o Brasil ou a Índia, por exemplo, tentam aparecer como potências de “equilíbrio”, evitando se alinhar claramente. O historiador Ângelo Segrillo pontua que essa guerra talvez ajude a China a subir como maior economia do mundo e possa ser considerada a verdadeira vencedora.
-AFP-JovemPan