Tarifaço movimenta o mercado global, mas Brasil precisa de políticas públicas e logística eficiente para aproveitar oportunidade
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O novo tarifaço anunciado pelo ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, sobre produtos chineses — que eleva as alíquotas para até 145% — reacende a disputa comercial entre as duas maiores economias do mundo e coloca o Brasil no centro de uma possível reconfiguração do mercado agrícola global. A medida, vista como retaliação a práticas comerciais da China, pode favorecer o agronegócio brasileiro, especialmente no setor da soja.
Com o aumento das tarifas sobre os produtos chineses, Pequim tende a redirecionar suas compras de grãos para outros mercados. Nesse contexto, o Brasil surge como um fornecedor estratégico, já sendo responsável por 52% das exportações de soja para a China. Segundo Lucas Costa Beber, presidente da Aprosoja Mato Grosso e vice-presidente da Aprosoja Brasil, essa participação pode crescer, desde que o país ofereça condições reais de competitividade aos produtores.
“O Brasil tem potencial para ampliar a produção, inclusive convertendo áreas de pecuária em lavoura. Mas é preciso viabilidade econômica. Se o conflito tarifário se mantiver, temos tudo para consolidar ainda mais nossa posição”, afirma Beber.
Oportunidade sob risco
Apesar do cenário favorável no comércio internacional, internamente os produtores enfrentam desafios crescentes. A taxa Selic em 14,25% encareceu o crédito rural e tornou ainda mais urgente a necessidade de um Plano Safra 2025/2026 com juros acessíveis e instrumentos de apoio eficazes. O ciclo anterior, anunciado como o maior da história, teve suas linhas de financiamento suspensas ainda em fevereiro, deixando produtores sem acesso a novos recursos.
“Com juros nesse nível e custos em alta, muitos produtores já sinalizam redução no uso de insumos, como fertilizantes. Isso pode afetar a produtividade e até pressionar os preços dos alimentos”, alerta Lucas
A Aprosoja já encaminhou ao Ministério da Agricultura propostas para o novo Plano Agrícola e Pecuário, com destaque para ampliação de recursos em armazenagem, linhas de crédito para combate a incêndios e incentivo à sustentabilidade por meio de juros diferenciados para quem adota práticas de sequestro de carbono e plantio direto.
Europa no radar e política interna em xeque
Além da China, a Europa também pode se tornar um destino mais relevante para a soja brasileira, caso as tensões comerciais aumentem. No entanto, entraves como a Lei Antidesmatamento europeia e os gargalos estruturais brasileiros — armazenagem deficiente, logística cara e falta de seguros robustos — ainda freiam o potencial de expansão.
A possível intenção do governo federal de taxar exportações e reduzir tarifas de importação acendeu um alerta no setor. Para a Aprosoja, essas medidas podem favorecer concorrentes internacionais e desestimular a produção local.
“Isso coloca o produtor brasileiro em desvantagem. Sem um seguro agrícola que cubra os custos reais, como acontece nos EUA e na Europa, fica difícil competir. Taxar exportações e liberar a importação de produtos subsidiados só agrava esse cenário”, enfatiza o presidente.
Plano Safra é peça-chave
Com o mercado global em movimento, o Brasil precisa agir rápido para garantir competitividade aos seus produtores. O lançamento do novo Plano Safra, previsto para junho, será decisivo. Se bem estruturado, pode transformar a conjuntura externa em avanço concreto para o agro brasileiro.
Enquanto isso, entidades como a Aprosoja Brasil e a Aprosoja Mato Grosso seguem pressionando por políticas públicas que deem segurança ao produtor e aproveitem a janela de oportunidade aberta pelo tarifaço americano.
