Boas notícias da Grã-Bretanha, um alvo preferencial do extremismo islâmico. É irrelevante quando remotos colunistas, como eu, lembram a obviedade que a culpa do terror cabe aos terroristas e não à política externa americana ou britânica. Relevante é (até que enfim) o posicionamento sem ressalvas de organizações islâmicas. Mais do que as ritualísticas condenações de ataques terroristas, como os fracassados atentados em Londres e Glasgow, desta vez existe um apelo para que os muçulmanos que vivem na Grã-Bretanha cooperem com a polícia para impedir que atrocidades sejam praticadas.
Os apelos esta semana partiram não apenas do Conselho Britânico da Grã-Bretanha, que por uns tempos foi próximo das autoridades governamentais, mas de grupos menores e mais ativistas como a British Muslim Initiative, que realiza marchas contra a guerra do Iraque. Digno de nota foi um artigo escrito na edição online do jornal esquerdista “The Guardian” por Asim Siddigui, de um outro grupo, o City Circle. Ele escreveu que uma mentalidade radical move os atacantes e não a política externa dos EUA ou da Grã-Bretanha. Siddiqui pergunta: “Onde está a indignação deles quando 400 mil muçulmanos são massacrados em Darfur”?
E uma nota de cinismo político. As convulsões dos últimos dias na Grã-Bretanha, a destacar a trama terrorista, foram boas notícias para o primeiro-ministro Gordow Brown, que há pouco mais de uma semana sucedeu a Tony Blair. Tranquilo e contido, Brown tem manejado a crise sem a exuberância oratória e messiânica de Blair. Yahya Birt, do grupo City Circle, disse que a comunidade islâmica se sente mais à vontade com Brown, pois ele tem menos do tom moralista e maniqueísta de Blair.
Brown inclusive evita a palavra “muçulmano” nas suas declarações, assim como a polêmica expressão “guerra contra o terror”, vista por muitos como um eufemismo para alvejar o islamismo.
O batismo de fogo trouxe dividendos para Brown. Uma pesquisa do jornal “The Times” publicada segunda-feira mostra uma taxa de aprovação de 77 pontos para o novo primeiro-ministro, um salto de 14 pontos em um mês. Tudo muito embrionário, mas o clima político em Londres prenuncia boas notícias em Washington quando, em janeiro de 2009, acontecer a troca de guarda na Casa Branca.
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