Ministério Público e até delegacia. A privatização do MT Hemocentro agora é, além de uma questão política e social, um caso de polícia. Isso porque, insistindo na privatização da unidade, o Governo do Estado de Mato Grosso deixa faltar, há quinze dias, reagentes para a manipulação hemoterápica, impedindo os servidores de fazer os processos de transfusão. Isso pode gerar mortes.
Por isso o promotor de justiça do Ministério Público, Alexandre Guedes, visitou nesta quarta-feira, 12 de setembro, a sede do MT Hemocentro, e encontrou lá trabalhadores e pacientes revoltados com a falta de material e, mais ainda, revoltados com a postura ditatorial do Governo, que desrespeitou a decisão do Conselho Estadual de Saúde do Estado de Mato Grosso (CES/MT), aprovada no dia 01 de agosto, pela não terceirização dos serviços da unidade. Veja aqui o Edital de licitação publicado no Diário Oficial do Estado nesta quarta.
Servidores e doadores foram até a delegacia mais próxima fazer boletins de ocorrência denunciando a falta de condições para o atendimento dos pacientes. Um rapaz, que precisa fazer cirurgia para a retirada de uma bala alojada em seu corpo, mas é hemofílico (tem alguma alteração genética e hereditária no sangue, que dificulta a coagulação), não foi atendido pelo Pronto Socorro Municipal – que já está sob gestão de Organização Social (OSS’s) e não realiza o procedimento de fenotipagem (processo laboratorial que adequaria o sangue para ser utilizado, aproximando as características sanguíneas do doador e do receptor) -, e nem pelo MT Hemocentro, porque não há condições materiais.
A reserva de sangue liberado para uso é mínima, para não dizer nula. Em casos de pacientes que precisem do sangue tipo O +, o mais requisitado, dependendo do tipo de ocorrência, poderá haver morte, sim, pois não há mais do que duas bolsas. De plaquetas não há nenhuma bolsa liberada, justamente pela falta de reagentes.
Para todo lado se ouvia: “O MT Hemocentro nunca passou por isso”. É difícil, para os servidores que trabalham lá desde o início aceitar as condições impostas, de precariedade e privatização. Muitos choraram. Mas o sentimento de luta prevalece e, reunidos ali mesmo, em uma sala no prédio da unidade, os servidores definiram ações para tentar barrar o processo. Uma delas é um grande ato no dia 19 de setembro, próxima quarta-feira, quando o Conselho Estadual de Saúde voltará a discutir a gestão de OSS’s no estado.
Para tentar não perder as bolsas que foram coletadas nesses dias, mas que ainda não podem ser utilizadas nas transfusões pela falta de reagentes, a diretora geral da unidade, Eliana Rabani, conseguiu emprestar uma pequena quantidade de Rondonópolis.
Descaso – os servidores do MT Hemocentro relataram que a compra de reagentes é, desde que a unidade funciona (1995), adquirida por meio de planejamento. Isso porque o produto tem validade de 29 dias, isto é, precisa ser reposto a cada 29 dias. Funciona assim desde sempre e nunca havia tido problema antes de 2010, justamente quando as OSS’s começaram a ser pauta no estado.
Além disso, houve a situação vexatória em que os servidores requisitaram três refrigeradores especiais para a manutenção das bolsas, utilizados especialmente para o serviço hemoterápico, pois chegam a funcionar com temperatura de 30 graus negativos. Para a surpresa dos servidores, o que eles receberam da Secretaria de Estado de Saúde foi três frigobares domésticos, desses de quarto de hotel. “Nós devolvemos, porque a gente não vai receber esse tipo de coisa, mas a Secretaria de Estado já recebeu”, comenta uma servidora, visivelmente irritada.