O governo boliviano considerou, nesta segunda-feira, ilegal o referendo realizado na véspera pelo Departamento de Tarija, governado pela oposição, para declarar sua autonomia do poder central. A medida agravou a crise política da Bolívia, o país mais pobre da América do Sul.
Em Tarija ficam mais de 80 por cento das reservas de gás natural da Bolívia. Com a decisão de domingo, a região se somou a outras três controladas por partidos de oposição que desafiaram recentemente o governo central, de esquerda, declarando sua autonomia por meio de consultas à população.
O presidente Evo Morales, de esquerda, busca consolidar seu programa de nacionalização da economia por meio de uma nova Constituição que irrita a oposição. Ele tentará revalidar sua autoridade em um referendo marcado para agosto, no qual a população decidirá se o presidente e os governadores dos departamentos — entre os quais vários de oposição — devem continuar no poder.
“Reconhecer essas consultas (de autonomia) sobre estatutos ilegais seria um erro enorme porque se estaria reconhecendo algo que não é reconhecido nas normas legais do país”, explicou a uma emissora de TV o porta-voz presidencial, Iván Canelas.
Oitenta por cento dos eleitores de Tarija, o menor dos nove departamentos bolivianos, votaram a favor de que a região ponha em vigor um estatuto que lhe permitirá desde ter política econômica própria até resistir a uma reforma agrária impulsionada pelo governo central.
Como nos referendos realizados nos Departamentos de Santa Cruz, o centro econômico do país, Beni e Pando, o governo central fez campanha pela abstenção, que teria chegado a 35 por cento na votação em Tarija, segundo dados preliminares.
De acordo com analistas, as declarações de autonomia dos Departamentos mais ricos do país, situados na fértil planície oriental, não têm por objetivo uma separação do restante do país, mas frear as ambições socialistas de Morales.
Canelas disse que o governo está concentrado na realização do referendo revogatório programado para 10 de agosto.
Segundo o governo, uma vitória de Morales — principal aliado na região do presidente da Venezuela, Hugo Chávez — significará que a nova Constituição recebeu luz verde para ser levada a consulta popular, medida adiada por causa dos referendos sobre autonomia regional.
“O povo dirá se segue a mudança ou volta para o modelo neoliberal. Isso será decidido em 10 de agosto. O povo identificará seus inimigos”, afirmou Morales no sábado, na abertura de suas campanha para o referendo.