Perdida na tentativa de deixar programa interessante, emissora atropela regras em espetáculo nauseante de impunidade ao vivo
As várias tentativas da Globo de salvar a edição do “ Big Brother Brasil ” em 2022, se é que isso ainda era possível, tiveram um triste e vergonhoso fim na noite desta segunda-feira (14). A “baldada” desferida por Maria na cabeça da Natália durante o programa ao vivo mostrou que a emissora está disposta a tudo, inclusive ignorar as regras do próprio programa e incluir cenas de humilhação, tortura psicológica e violência como forma de entretenimento.
Natalia está no terceiro paredão – de um total de quatro. Foi rejeitada na primeira oportunidade pelo cara que dava trela para ela, assim que esse conseguiu outra opção de flerte. Teve o comportamento nas festas julgado e criticado como se fosse a única a beber e buscar carinho na boca de outro alguém. Foi alvo de todos da casa, escuta o tempo todo que precisa mudar seu jeito e luta para sobreviver em um confinamento onde não é bem-vinda nem pelas próprias aliadas.
Foi nesse contexto que a modelo chegou no jogo da discórdia. Logo de cara, já foi a primeira a ser escolhida como alvo. E, enquanto o linchamento psicológico acontecida, foi agredida ao vivo por Maria. A emissora poderia ter decidido por expulsar a atriz, mas optou por constranger a vítima da violência perguntando diante de todos se ela estava bem, logo após o apresentador ter afirmado que a agressora havia sido “descuidada”.
Maria se calou. Tadeu se calou. Todos os demais participantes se calaram. A Globo se calou. Como Natália teria psicológico suficiente para se levantar e denunciar o golpe que tinha acabado de sofrer diante todos se todos fingiam cegueira.
Se a cena até aqui já estava indigesta de acompanhar, pior que isso foi ver o jogo seguir e a mesma Natália continuar sendo alvo de críticas e banhos de água na cabeça. Como se nada tivesse acontecido. Foi torturante. Além do comportamento insuportável para o jogo, os participantes desta edição demonstram um elevado grau de desumanidade. E a emissora, de tão cega para manter a audiência, levou a sério demais a frase “a gente quer treta”.
A indignação do público, que vai muito além das torcidas para cada brother, fez com que muitos passassem a pressionar os patrocinadores do reality milionário em uma tentativa de justiça. Qualquer decisão tomada agora pode até diminuir o peso da omissão, mas nada vai reparar o linchamento exibido em rede nacional. Muito menos camuflar que a motivação para um posicionamento tenha sido financeira.
O espetáculo de horror acontece após uma série de cenas de transfobia , racismo , bullying e muitas outras mazelas sociais. Se o objetivo da Globo era retratar a realidade, ela conseguiu pegar o que há de pior no mundo externo, incluindo agora a impunidade.Esse BBB nos mostra que, quando você não tem fama ou poder, vão fazer de tudo para te colocarem no papel de bobo da corte daqueles que dão as cartas.
Seguimos… ou não!
** Thiago Calil é jornalista formado pela Universidade Metodista de São Paulo. É editor-chefe do iG desde 2021, posição que assumiu após mais de dez anos produzindo conteúdo para web. Respeita muito o iGuinho, mascote do Portal, mas é apaixonado mesmo por gatos. Sambista de coração e teimoso por vocação, tem certeza que seria campeão do “Qual é a Música?”. Analisa BBB com a mesma seriedade que observa o cenário político e econômico do País. Afinal, jornalismo é jornalismo em qualquer editoria.
Fonte: IG/PorThiago Cali