Um jovem brasileiro de 20 anos, Davi, vai estudar em Nova York. Uma linda
mulher, Fernanda, ex-modelo internacional brasileira, que se diz artista –
estereótipo de mulher bela e culta – chega para morar no mesmo prédio que
ele. Davi (alter ego do escritor Estêvão Romane, hoje com 22 anos) vai viver
uma experiência emocional tão intensa com Fernanda que ela acabou virando
livro: “Eu amei Victoria Blue – meu caso de amor com uma garota de programa
em Nova York”, que a Geração Editorial está lançando certa de que se
transformará num dos livros mais vendidos do ano.
Quem é Fernanda, afinal? Ela se diz uma coisa mas, ao longo do livro –
narrado com frases secas, cortantes, cínicas, em ritmo de série televisiva –
sua verdadeira personalidade vai surgindo. Ou, quem sabe, vai ficando cada
vez mais distante da realidade. Num tom misterioso, Fernanda conta que
viajou o mundo desfilando, tirando fotos. Aos poucos revela que seu pai
abusava sexualmente dela. Faz xixi na cama ao lado de Davi. Pinta quadros
que no final das contas podem não ser dela, mas do ex-namorado. Conta
histórias que se contradizem. Qual é o seu segredo? O que a atormenta tanto?
Estêvao (ou Davi) teve que passar oito meses namorando esta mulher para
descobrir e poder contar tudo neste livro.
Fernanda, gauchinha bonita e inteligente que tentou ser Gisele Bündchen,
acabou Victoria Blue. Pois é Victoria Blue (o nome de guerra dela) que se
esconde por trás de Fernanda, de sua vida complexa, de seus mistérios.
Victoria Blue é seu grande segredo, que Estêvão vai demorar para descobrir.
A história avassaladora dessa relação tumultuada e de final imprevisível é
narrada com talento por um jovem autor que, com cinismo, bom humor e ironia,
remexe sua própria dor.
Por que contar essa história num livro? Estêvão explica: “Porque é uma ótima
história que merece ser compartilhada. Todos podem se divertir e talvez
aprender muito com ela. Escrevi o livro como se estivesse contando a
história numa mesa de bar, com cada leitor na mesa tomando um chope comigo”.
Isso é o que ele diz. Caio Túlio Costa, experiente jornalista, acha que pode
ser mais:
“Conheço Estêvão Romane desde sua adolescência. Sua maturidade sempre me
espantou. Imagine ouvir um jovem imberbe discorrer sobre charutos, rum,
vinho ou negócios como se fosse um expert. Eis o Estêvão. Pense num moleque
capaz de contar histórias como que tomado por um fabuloso conhecimento dos
humores, maus humores e anti-humores da fêmea. Eis o Estêvão. Descubro agora
que ele também escreve como escritor maduro.”
Todos os personagens, “sem exceção”, garante Estêvão, são reais. O livro
elenca um sem número de personagens – brasileiros e americanos, sérvios e
tibetanos – movendo-se na cidade que nunca dorme e onde tudo pode acontecer,
e acontece. Os nomes de todos eles – menos de um, que pediu para continuar
identificado – foram trocados, para preservar a privacidade deles. Afinal,
não ficaria bem, para algumas celebridades, aparecer como clientes, por
exemplo, da lendária Gigi, da agência de modelos (e acompanhantes chiques)
Gigi Models.
Os nomes foram alterados por segurança? O autor explica: “Achei melhor
preservar todos os envolvidos, principalmente Fernanda. O único nome real no
livro é o do Kim, coreano dono da vendinha da esquina de casa em nova York.
Ele me pediu pessoalmente para deixar seu nome verdadeiro. Kim é muito
especial, quando contei a ele o que descobri sobre Fernanda, saiu de trás do
balcão e me abraçou em lágrimas.”
Mas por que, então, sendo uma história real, memórias, o personagem não se
chama Estêvão, mas Davi? Estêvão argumenta: “O Davi está preso ao texto
escrito, àquelas circunstâncias, parado no tempo, sem chance de mudanças.
Mas eu, Estêvão, não. Eu continuo minha vida, minha vida continua por
diversos rumos, muitos certamente imprevisíveis. Aliás, todos os personagens
no livro estão parados no tempo, mas as pessoas reais continuam sua vida
real. Por isso, optei por me materializar, também, num pseudônimo”.
A descoberta do segredo de Victoria Blue não chegou a traumatizar o autor.
“Já ouvi falar de moleques da minha idade que descobriram coisas
semelhantes, tomaram duas garrafas de pinga, cataram um porrete e foram
atrás da garota. No meu caso, quando descobri, comecei a rir, e de certa
forma não parei até hoje.”
Estêvão, que quer continuar escrevendo – “Ainda tenho muitas histórias para
contar e ouvir, ouvir e contar” –, acha que ganhou muito com essa
experiência. Mas teria perdido alguma coisa? Com bom humor: “A única coisa
que perdi nessa experiência foi o meu prepúcio”.
Numa história tão real que beira a ficção, tão misteriosa que beira o
suspense, tão divertida que beira a comédia, vale o conselho de Caio Túlio
Costa: “Não abra este livro se não tiver tempo. Porque, seja lá onde você
estiver, não vai largá-lo até Victoria Blue se desnudar. Bom proveito.”