Os nossos irmãos mato-grossenses que tiveram a oportunidade de conhecer a região de Peixoto de Azevedo (e vizinhanças) entre os anos 80 e 90, atestarão com riqueza de detalhes o que abaixo descrevemos.
Embora a ocupação inicial daquele território fosse de pequenos agricultores (com objetivos agropastoris), frutos de projetos de colonizadoras privadas e mesmo do INCRA, a descoberta de riquezas no subsolo mudou a configuração econômica.
Veio uma ‘febre’.
O garimpo era movido pela ‘febre do ouro’. Nas laterais da avenida principal de Peixoto de Azevedo, onde só trafegava um carro por vez, via-se (nesta ordem) uma ‘compra de ouro’, uma boate e uma farmácia. De novo, uma porta de ‘compra de ouro’, uma boate (com suas alegres coristas) e uma drogaria.
Era assim mesmo.
Talvez porque o garimpeiro vendia seu ouro (bamburrava, na sua linguagem simples), gastava tudo com diversão (bebida e mulheres) e depois procurava a farmácia, em busca de remédio para curar ‘furo de bucho’, provocado pela ‘peixeira’ de um desafeto, numa disputa amorosa.
Hoje aquela região garimpeira (antiga rua comercial) é um desolamento só. Casas desabando, uma profusão de ruas sujas, usuários de drogas se arrastando em plena luz do dia em busca de suprir o vício misturam-se a cães vadios e muito lixo.
Uma imagem digna desses filmes de terror.
Mas o futuro de todos os mato-grossenses é (ou pode ser) bem semelhante a um ‘garimpo falido’, porque a má gestão, a má vontade e a gula de alguns gestores públicos estão levando Mato Grosso a um precipício. Se não abrirmos os olhos a tempo (e reagirmos) poderá ser tarde demais.
Os sinais estão aí, e só não vê quem realmente se recusa a ater-se para a realidade.
O atendimento aos municípios, por meio de convênios, simplesmente não mais existe e a liberação de qualquer parcela de alguma obra feita em parceria entre os entes públicos é um exercício de paciência (e insistência) para os prefeitos.
Lembremos que um diretor da Petrobrás, Silvinho Pereira, recebeu um veículo Land Rover, avaliado em R$ 79 mil reais, fruto de corrupção, foi expurgado e processado. Começou ali derrocada do então Ministro Chefe da Casa Civil, advogado Jose Dirceu.
Aqui também tem Land Rover.
Mas em nosso Estado, cada veículo custou R$ 1.400, ou quase 20 vezes o valor do escândalo nacional. E foram umas dez camionetas, pelo que se sabe. Mas ninguém foi punido ou obrigado a devolver recursos ‘à viúva’ (fazenda pública, cofres estatais). Ninguém ‘caiu’ ou sofreu ameaça (de ser afastado a bem do serviço público).
A corrupção está em efervescência.
E é sabido que a explosiva combinação de má administração e cleptomania também levou o Estado de Mato Grosso a entrar no cadastro negativo federal (uma espécie de Serasa ou SPC), postergou suas dívidas (alongou) para daqui a cinco anos. Simplesmente lançou a próxima gestão (também) no buraco.
Uma tragédia.
Desde o mês de abril de 2011 o governo enfrenta dificuldades para quitar a folha de salários dos servidores, agora prepara uma demissão coletiva (de servidores não estáveis) e até mesmo se valerá das avaliações de servidores em estágio probatório, reprovando-os, para justificar exoneração de concursados.
É ou não um ‘garimpão’ falido?
*Antonio Cavalcante Filho e Vilson Nery são ativistas do MCCE (Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral em Mato Grosso)
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Antonio Cavalcante Filho