Há muito mais coisa em comum entre o bairro Santa Isabel e Serra Talhada, município cearense de triste fama pelo grande número de assassinatos que registrou num passado não muito recente. Tanto lá como cá matar alguém se tornou ato banal, com a diferença de que Serra Talhada fica no sertão cearense, enquanto que o Santa Isabel é um bairro distante apenas dez minutos do centro de Cuiabá.
Há mais gente marcada para morrer no Santa Isabel, além das quatro execuções ocorridas em pouco mais de um ano, envolvendo as gangues “Os irracionais” e “Bad Boys”, integrada por jovens que medem forças há vários anos, como conseqüência de uma rixa antiga. Eles prometem ampliar a matança, pois os acertos de contas nunca chegam ao fim. Sempre que um lado perde um membro, jura vingança e o ciclo se repete indefinidamente.
Os envolvidos nessa guerra sem tréguas mandaram um recado aos moradores do bairro, assegurando que mais gente vai morrer, com a ressalva de que os “candidatos” serão somente integrantes das duas gangues, na seqüência de um auto-extermínio que parece nunca chegar ao fim.
Esse recado consta do depoimento do jovem Joilhan Januário dos Santos, de 19 anos, o “Maninho”, que esteve na Delegacia de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) na última sexta-feira prestando depoimento. Ele é apontado como testemunha do assassinato de Fábio Queiroz da Silva, de 24 anos, executado no dia 14 de julho no bairro Santa Isabel.
Ao sair da Delegacia, ele revelou aos policiais que naquela noite “iria morrer mais um”. Horas depois, testemunhas viram Maninho participar da execução do adolescente Gustavo de Freitas Moraes, de 17 anos, assassinado com sete tiros de pistola no bairro Cidade Alta.
“O Gustavo era desafeto do Maninho, que faz parte dos Bad Boys, junto com o Luênio e o Roni Capeta, os três principais integrantes da gangue”, explicou um policial de plantão. O policial acrescentou que Gustavo sabia que seu nome constava da lista de membros jurados de morte e, por isso, mudou-se do Santa Isabel para a Cidade Alta.
Gustavo foi executado na república onde se escondia. A esposa fazia o jantar e percebeu quando três rapazes – Maninho, Luênio e Roni – invadiram a casa e foram logo atirando contra seu marido. Os assassinos fizeram sete disparos contra o adolescente e acertaram todos. Em seguida, fugiram no mesmo táxi que os trouxera.
Esse é o segundo assassinato creditado a Luênio em pouco mais de um mês. No dia 13 de julho, testemunhas presenciaram o jovem executar com 23 tiros de pistola Jucimar Moraes, o “Lobão”, de 26 anos. O crime ocorreu numa casa do bairro Santa Isabel, onde a vítima participava de uma festa de aniversário. Um dia depois, quatro rapazes executaram Fábio Queiroz a tiros. Na verdade, o objetivo deles era eliminar Luênio, que estaria escondido em um bairro próximo.
Luênio era irmão de Lúcio Flávio Rondon, de 18 anos, executado a tiros em junho no ano passado no bairro Santa Isabel, em Cuiabá, justamente em mais um confronto de gangues. Um dos investigados pelo crime é um adolescente, irmão de Jucimar. Com a identificação dos três envolvidos, o delegado João Bosco de Barros deverá pedir a prisão preventiva deles.
