No interior do Ceará, um deserto. No sudeste do Rio Grande do Sul, areais ocupando a paisagem no lugar da pastagem. Na maior cidade do País, São Paulo, o Tietê, um rio sete vezes mais poluído do que o limite recomendado.
Degradação extrema da natureza, queimadas, desmatamento, animais extintos. O cenário que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) traçou com base nos dados disponíveis sobre os cuidados com o meio ambiente no Brasil é sombrio.
Utilizando diferentes fontes, os especialistas em números do Governo apontaram avanços e tropeços em diferentes áreas ao apresentarem, neste mês, um conjunto de Indicadores de Desenvolvimento Sustentável de 2008.
A principal crítica é em relação à preservação do planeta. Se houve avanços na economia e na área social, na área ambiental há problemas que merecem atenção imediata.
Sem esquecer que o Brasil obteve conquistas importantes no setor, como o controle das emissões de substâncias que destroem a camada de ozônio, os técnicos chamam a atenção para o que pode acontecer se medidas não forem tomadas para minimizar o impacto das agressões constantes à natureza.
“Os dados ambientais são contraditórios. Alguns vão bem, outros vão mal”, resume Judicael Clevelario, um dos coordenadores do estudo. “Há duas situações críticas que precisamos resolver logo.
A primeira é em relação ao desmatamento e às queimadas. Toda vez que o crescimento econômico acelera, isso se intensifica. Não podemos deixar acontecer com a Amazônia o que aconteceu com a Mata Atlântica”, resume.
“A segunda é em relação à área de saneamento, de coleta, tratamento de esgoto e disposição final do lixo. Os rios são contaminados e a qualidade da água afeta a saúde da população. Diarréia ainda é um problema muito sério no País”, completa Clevelario. “O primeiro ponto é mais polêmico, muita gente ainda acha que, para crescer, é inevitável que danifiquemos o meio ambiente.
Na questão de saneamento, todo mundo sabe que isso é necessário. Por que não conseguimos concretizar esse anseio?”, instiga o pesquisador.Fronteira agrícola
O desmatamento crescente da Amazônia, fora do controle do Governo, está diretamente ligado à expansão da fronteira agrícola e à maneira como a produção no campo está organizada, baseada em monoculturas e grandes plantações de cana-de-açúcar e soja para exportação.
As fazendas crescem em direção à floresta, devastada rapidamente por meio de queimadas.
O desenho formado pelo avanço nos diferentes estados fez com que a região fosse apelidada de “Arco do Desflorestamento e das Queimadas”.
Os incêndios nas florestas são responsáveis por 75% da emissão de CO2 do Brasil, número que coloca o País entre os dez maiores responsáveis pelo efeito
estufa no planeta.
A questão é central para o Ministério do Meio Ambiente e está ligada à queda da ministra Marina Silva. Pressionada após bater de frente com fazendeiros poderosos, incluindo o produtor de soja e governador do Mato Grosso, Blairo Maggi, ela acabou substituída por Carlos Minc.
A reportagem procurou a ex-ministra e atual senadora para que falasse sobre o afastamento, mas ela não se pronunciou até o fechamento desta edição. Os atuais responsáveis pela pasta também não se posicionaram sobre o documento apresentado pelo IBGE.
Por Daniel Santini/F.Uni