Ofício foi direcionado ao bispo de Diamantino, Dom Vital Chitolina, depois que o padre de Tapurah, Paulo Muller, citou declaração de amor de repórter ao companheiro, de forma pejorativa e preconceituosa, para orientar sobre o sacramento do casamento
O Grupo de Atuação Estratégica da Diversidade Sexual e de Gênero (Gaedic) da Defensoria Pública de Mato Grosso encaminhou ofício ao bispo diocesano do município de Diamantino, Dom Vital Chitolina, solicitando uma reunião, nesta segunda-feira (21/6). A intenção é encontrar uma solução extrajudicial para a atitude do padre Paulo Antônio Muller, diante das declarações tidas como “homotransfóbicas”, feitas em missa.
O padre teria cometido o crime ao mencionar, de forma pejorativa e discriminatória, a declaração amorosa do repórter da Globo, Pedro Figueiredo, feita ao companheiro, como exemplo do que vai contra o sacramento do casamento para a Igreja Católica.
O coordenador do Gaedic Diversidade Sexual e de Gênero, Vinicius Hernandez, registra no documento as declarações feitas no dia 13 de junho, em Tapurah pelo padre, caracterizando-as como homofóbicas e em desacordo com uma das principais funções da Igreja, a de garantir a dignidade humana.
“Transcrevemos a íntegra da fala do pároco para evidenciar que nem a Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso, nem a Igreja Católica Apostólica Romana podem pactuar com a disseminação do ódio entre os seres humanos, principalmente, ao considerar que uma das prerrogativas de ambas as Instituições é a defesa dos vulneráveis”, diz o ofício.
O defensor registra ainda que: “as falas do padre incitam a violência, extrapolam o bom senso e ferem as leis e o direito fundamental da dignidade da pessoa humana. A homotransfobia é considerada crime, não podendo a Igreja Católica, por quaisquer de seus representantes, ferir o ordenamento jurídico”.
O defensor lembra ainda que documento feito em recente sínodo com participação de 200 bispos, focado na família, apresenta “mudança da posição do Vaticano em relação à homossexualidade”.
“De acordo com o conteúdo do documento, que foi lido na presença do Papa Francisco, foi possível notar uma inovação em relação ao atual tratamento dado a homossexuais, segundo Bruno Forte, secretário especial do sínodo: ‘Devemos respeitar a dignidade de cada pessoa. O fato de ser homossexual não significa que esta dignidade não é reconhecida e promovida. A ideia central é a promoção da pessoa independente de sua orientação sexual'”.
Hernandez cita outros documentos da Igreja nos quais o Papa Francisco se posiciona sobre o tema, além da oração de São Francisco de Assis, para argumentar que diante de tais orientações, a atitude do padre foge às funções institucionais da igreja.
“Nota-se, reverendo, que a escrituras demonstram que independente da orientação sexual de cada indivíduo, a Igreja, os padres e qualquer pessoa tem o dever do acolhimento, do respeito e do amor. Desta feita, as palavras pronunciadas pelo padre durante a sua homilia, ferem a liberdade religiosa e de expressão, pregando o ódio, a violência, o preconceito, indo contra os dogmas e ensinamentos pregados pela Santa Igreja Católica”.
O defensor pede que o ofício seja respondido, o mais breve possível, para que uma solução conjunta seja discutida e solucione o impasse, “sendo a solução não limitada a valores indenizatórios, mas focada em atitudes que tragam retorno social positivo”. Para ler a íntegra do documento, clique aqui.