Sinto que estamos sendo vistas enquanto atrizes de verdade
Uma das mais relevantes vozes sobre a diversidade na internet e porta-voz do movimento de mulheres trans no Brasil, a atriz, modelo, youtuber e criadora de conteúdo, Gabriela Loran, de 30 anos, estará de volta ao streaming no novo projeto da produtora Porta dos Fundos, a série “Novela”, na pele de uma jornalista fofoqueira, a Lucrécia. Além disso, a atriz e influenciadora também está gravando um projeto de audiobook que conta a vida de Marielle Franco, ao lado de Zélia Duncan, Dira Paes e Verônica Bonfim.
Saindo de “Cara e Coragem”, novela das 19h da Rede Globo de Televisão, escrita por Claudia Souto e dirigida por Natália Grinberg, na qual viveu a Luana, Gabriela foi a primeira atriz trans a viver uma personagem na novela “Malhação”, também da Rede Globo, em 2018. Ela também pode ser vista na série “Arcanjo Renegado 2” como a Giovanna, a chefe de gabinete da presidente da Alerj, interpretada por Chris Vianna.
Em “Novela“, nova série da Amazon Prime com previsão de estreia para o primeiro semestre, Gabriela viverá Lucrécia, uma jornalista especializada em fofoca que comenta as cenas que estão no ar na tal novela do título. A série é protagonizada por Monica Iozzi e tem no elenco com Maria Bopp, Miguel Falabella e Luana Xavier.
“É bom, enquanto atriz trans, ser escalada para papéis de cargos de liderança e em tramas que não necessariamente tenham um contexto trans. Sinto que estamos sendo vistas enquanto atrizes de verdade”, diz ela, que tem formação pela CAL – Casa das Artes de Laranjeiras, além de já ter atuado em inúmeros espetáculos no teatro, tais como “Yabá: Mulheres Negras”, “InCômodos” e “A Performance de Seus Poemos em Universo Transgressor”.
Vivendo cada vez mais projetos na TV e no streaming, Gabriela Loran, agora, sonha com um papel de protagonista:
“Estou preparada e se o Brasil não estiver, o problema é dele. Porque nós, pessoas trans, estamos preparadas para esse protagonismo, sim! E esse protagonismo precisa acontecer o mais rápido possível, porque é justamente o que vai contrapor todo esse preconceito. Eu, enquanto atriz, obviamente vislumbro papéis de protagonismo, para mostrar minha potência artística, para mostrar que sou talentosa, que sou formada em Artes Cênicas, que eu dediquei a minha vida à arte… Então, sem dúvidas, estou preparada e não me importa se o Brasil não está… Ele vai ter que se adaptar!”, afirma.
Porta-voz da diversidade, Gabriela é escolhida pelo YouTube
para representar vozes negras do Brasil
O bom momento da carreira não é somente no campo da atuação, mas também se traduz em números, títulos e trabalhos com importantes marcas. Gabriela, atualmente, é embaixadora da L’Óreal Paris.
Seu trabalho como influenciadora digital também vem transformando a vida de milhares de jovens que se identificam com a sua história. A carioca possui, hoje, mais de 346 mil seguidores no Instagram, e mais de 25 milhões de visualizações em seus Reels na rede. Em seu canal no YouTube, espaço em que fala sobre sua vivências enquanto mulher trans, militância afro, política e moda, já são mais de 25 mil inscritos e 1 mi de views, além de 326 mil seguidores no TikTok.
No YouTube, Gabriela também foi uma das 12 brasileiras escolhidas em 2022 para integrar o projeto “Vozes Negras“, criado pela plataforma como uma mentoria para criadores de conteúdo negro e antirracista impulsionarem seus vídeos e seu alcance.
“Comecei a produzir conteúdo no YouTube em 2014. Foi a primeira plataforma que me abraçou e que eu tive a oportunidade de ser quem eu era, enquanto mulher trans e negra. Compartilhei todo o meu processo de transição no YouTube e tenho certeza de que muita gente ganhou apoio e conhecimento pelos meus vídeos. Hoje, poder trabalhar com o YouTube é maravilhoso. Eles se preocupam em trazer diversidade, potencializar influenciadores, dar dicas e potencializar bons discursos”, afirma.
Enquanto modelo, Gabriela também clicou campanhas de grandes marcas como a Hering – estrelando a “Íntima do Brasil”, que reuniu mulheres fortes e com trajetórias notáveis para celebrar o conforto e a autoestima feminina -, além de publis para Vichy, Avon, Stars+, Ame Digital, entre outras.
A carioca também já falou sobre a sua trajetória, sobre o poder da diversidade e sobre as suas descobertas e superações enquanto mulher trans no TEDxTalks, por duas vezes: “Me apresentei pela primeira vez no dia do meu aniversário, e também fui convidada para fazer o TED no dia da mulher. Na minha fala, cito Simone de Beauvoir ao dizer que não nascemos mulheres, nos tornamos”, lembra.
Sobre ser trans, Gabriela entende que muitas barreiras já foram quebradas, mas acredita que ainda há um longo caminho a ser percorrido, principalmente no cenário artístico.
“Eu sou Gabriela Loran por ser trans. Ser trans me abriu muitas oportunidades, mas ao mesmo tempo me limita muito. Já entendemos a pauta, já entendemos que o preconceito existe, mas os enredos de personagens trans ainda são muito superficiais. Eu quero ter carga dramatúrgica suficiente para poder fazer uma cena forte e mostrar minha potência, minha capacidade de ser atriz”, afirma.
Novos papéis também no cinema e em projetos para o streaming
Gabriela Loran aguarda a chegada de outros filmes e seriados que já estão gravados. No streaming, ela aguarda a estreia do filme “O Samba de Enredo”, gravado para a HBO Brasil, que adapta as histórias dos orixás brasileiros para contextos reais. Já na co-produção entre Brasil e Portugal, “O Último Animal”, de Leonel Veira, Gabriela viverá a protagonista Paulinha, uma mulher que tem o sonho de ser uma funkeira de sucesso, além de ser rainha de bateria.
Ela também pode ser vista no Canal Brasil, nas séries “Perdido” e “Anjo Loiro com Sangue no Cabelo”, ambas disponíveis no Globoplay. Para o futuro, Gabriela almeja papéis de protagonista, além de mais espaço e conteúdo dramatúrgico diversificado para atrizes trans:
“Eu quero protagonismo, principalmente em novelas, algo que nunca aconteceu no Brasil. Quero que atrizes como eu tenham a possibilidade de mostrar o quanto são competentes e talentosas, sem o rótulo de ser trans”, conclui.