quinta-feira, 07/11/2024
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Fruto proibido: a mordida na maçã começa na imaginação

Imagine-se numa mesa de bar. Junto com você, pessoas que são do seu círculo de amizade. A galera conversa, grita, zoa, ri. Você, alheio a tudo, nem reage. Isso porque, a uma certa distância, alguém já chamou a sua atenção, fazendo do resto, insignificância. E a recíproca foi verdadeira. Estabeleceu-se ali o primeiro encontro, e, embora ambos possam negligenciar a possibilidade adiante, a relação sexual desfrutada pelos dois logo mais [ou pelas duas] começou ali, quando só os olhares se buscavam e os sorrisos licenciavam a tão famosa primeira vista.

Apesar de não ter consumado nada fisicamente, a imaginação já se encarregou de encenar todas as variáveis possíveis. E, como não poderia ser diferente, os corpos reagem – e como! – muito bem a isso. Assim, não é exagero afirmar que o sexo começa e termina na cabeça, o que faz do cérebro o órgão sexual mais importante que temos. A afirmação é de Barry Komisaruk, docente de Psicologia e pesquisador na interface sexualidade humana e neurociência, na Universidade de Rutgers, localizada em Nova Jersey, EUA.

O cérebro é sensível às variações que acometem o corpo, desde as prazerosas até as mais desanimadoras. O orgasmo, por exemplo, só representa o que é, pois há entre os neurônios um requintado sistema de comunicação que intercepta e alerta homens e mulheres de que algo bom ocorre no reino da Dinamarca. Nesse esquema de assimilação e interpretação das ações protagonizadas pelo nosso corpo, quem ganha somos você e eu.

Se os cinco sentidos que temos, quando postos em ação, nos criam as sensações provocadoras de medo e calmaria, satisfação e desconforto, alegria e tristeza, não é exagero colocar a visão, o olfato, o paladar, a audição e o tato como pré-requisitos para o sucesso ou fracasso de uma transa. O erro está em julgar que a relação sexual, por ser ato de ordem prática e que pressupõe contato, não esteja ancorada nas subjetividades que os sentidos podem despertar. No fim, são eles que nos fazem concluir se foi bom ou não estar com alguém.

O elemento físico tanto não é prerrogativa, como afirma Mario Fiorani Junior, médico e docente da Universidade Federal do Rio de Janeiro [UFRJ], que as coisas que passam pela nossa cabeça, ainda que inexista a presença do outro ou da outra, normalmente fazem o nosso corpo reagir. Seja para contentamento ou repulsa, fica estabelecido que o nosso humor sexual oscila e trafega de um lado a outro com base no que a imaginação nos provoca.

A prova de que o sexo não se restringe aos órgãos genitais é que pessoas que possuem algum tipo de paralisia naquela região do corpo também podem chegar ao orgasmo. O sistema nervoso central capta toques, sons, olhares, perfumes e gostos. Se houver a assimilação e posterior identificação por parte da companhia, as reações irão denunciar que, mesmo sem o contato final, o prazer triunfou. O sexo virtual, nesse mundo cada vez mais permeado pelas tecnologias, é outro exemplo que dispensa o contato entre duas pessoas para se constituir uma transa. A imaginação, nos prazeres via internet, volta a ser a bola da vez.

Quem atesta que o sexo não se limita ao gran finale são as zonas erógenas. Espalhadas pelo corpo, variando de homem pra mulher e de pessoa a pessoa, as regiões de excitação preparam o casal ou podem ser a finalidade do ato. Nuca, pescoço, peito, barriga, perna e até os pés guardam segredos que o mais desatento desperdiça.

Outro indício de que o sexo depende mais do pensamento e menos da parte física é o momento que o antecede, ou seja, a pré-disposição a participar do ato. Estresse, tristeza, traumas e abusos na infância, educação sexual repressora podem não dar o preparo suficiente para gerar no homem ou na mulher o desejo de transar. Quanto menos problemas, maior a vontade. Respiração ofegante e pele em arrepio são comuns nesse tipo de situação, tudo resposta do sistema nervoso central às intervenções que o corpo sofre.

Do mesmo modo que antes de começar o sexo já ganha movimentações na cabeça, igualmente acontece depois de finalizada a transa. O momento posterior é de reflexão, de ponderar o que foi bom e ruim, avaliar por que contentou ou desagradou e pensar na melhor forma de se abrir. Discutir a relação – expressão corriqueira nos relacionamentos – também é fruto da atuação do cérebro e tem o objetivo de melhorar, por vias racionais, a satisfação sexual do casal.

Se, de acordo com você, transar é das melhores sensações que a vida pode oferecer, segundo a ciência, a cabeça tem participação fundamental nesse processo. Antes de botar em ação desejos primitivos instintivamente, é prudente ativar o cérebro.

 

 

 

 

Thiago Cury

http://www.revistafapematciencia.org/noticias/noticia.asp?id=812

 
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Parmenas Alt
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