quinta-feira, 21/11/2024
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Franceses querem que terroristas queimem no inferno; ou na cadeia

Velas, flores e bichinhos de pelúcia para os mortos, especialmente as crianças. Para o homem que os trucidou em Nice, no lugar onde foi morto, cusparadas, lixo, pedras e uma mensagem: “Apodreça no inferno”. Antes, aos que praticam ou planejam atos terroristas similares, os franceses desejam que apodreçam na cadeia. Literalmente: quase dois terços apóia a volta da prisão perpétua.

As divisões entre esquerda e direita, ainda tão comuns no país onde estas designações foram inventadas, não existem mais quando a questão o terrorismo. Uma pesquisa feita imediatamente depois da chacina do feriado de 14 de Julho em Nice mostra que nada menos que 88% dos franceses acreditam que a justiça é leniente demais com simpatizantes do jihadismo.

Outras respostas são mais impressionantes ainda, indicando a revolta de uma opinião pública que não aguenta mais cantar a Marselhesa para os mortos e percebeu que mensagens chorosas nas redes sociais têm efeito zero sobre os que os massacram. Para 81%, seria aceitável um controle maior sobre as liberdades civis, especialmente no campo da proteção jurídica.

A sensação de impotência é enorme. Todos os franceses – 99% – esperam outros atentados, mas 67% acham que o governo de François Hollande é incapaz de lidar com o perigo iminente. O primeiro-ministro Manuel Valls, que tinha uma imagem de linha dura, foi vaiado quando participou da homenagem aos mortos no calçadão da praia principal de Nice.

Os gritos contra Valls não precisam nem ser traduzidos: “Assassin” e “Démission”. A Frente Nacional, partido de extrema-direita liderado por Marine Le Pen, é forte em Nice e região, onde existe também um grande número de habitantes muçulmanos e, entre eles, fanáticos jihadistas.

Mas o que chama a atenção na pesquisa do instituto Ifop é como conceitos que pareciam exclusivos da direita mais pura estão disseminados entre uma população desiludida com a ideia da integração, rejeitada acima de tudo pelos fundamentalistas. Apenas 13% dos franceses são a favor da construção de novas mesquitas e 63% são contra o uso do véu na cabeça por mulheres muçulmanas – prática que em muitos sentidos se tornou uma declaração política.

A maioria dos franceses também quer que todos os suspeitos de radicalismo islâmico que já tenham cumprido pena ou estejam no radar dos serviços de segurança, conhecidos como fiche S, sejam presos. Existem mais de 10 mil pessoas nessa situação.

Entre eles, estavam os irmãos que assassinaram membros da redação do jornal satírico Charlie Hebdo, alguns participantes dos atentados de 13 de novembro do ano passado e também o homem que assassinou a facadas, no mês passado, o casal Jean-Baptiste Salvaing, comandante de policia, e Jessica Schneider, que tinha um cargo burocrático na instituição. Eles foram mortos em casa, na frente do filho pequeno, por Larossi Abdalla, saído de uma condenação de três anos por ligações terroristas.

Não adianta dizer para cidadãos irados e vulneráveis que nada das medidas pedidas, algumas impossíveis pelas regras vigentes do estado de direito, impediria a chacina de Nice. De modo geral, as pessoas não são burras e percebem que Mohamed Lahouaiej Bouhlel teria escapado a todos os controles.

E também notam que a narrativa do coitadinho vitimado pela falta de integração não se aplica ao homem que aparece em fotos na praia de Nice, sorridente, bronzeado e musculoso. Aliás, musculação pesada e uso de anabolizantes, consumo de drogas, violência doméstica e vida nada religiosa são fatores comuns entre ele e os irmãos Tsarnaev, do atentado com panelas de pressão na maratona de Boston, e Omar Mateen, o carniceiro da boate gay em Orlando.

Lahouaiej documentava pelo celular, encontrado na cabine do caminhão que usou em Nice, todas as suas aventuras sexuais, com homens e mulheres, entre os quais um aposentado de 73 anos. Ninguém pode dizer que sexo, maconha e “bombas” para inflar os músculos sejam fatores constituintes do terrorismo jihadista.

Em comum, existe a religião, o fascínio pela violência extrema e a facilidade com que decidem se tornar “mártires” da causa. Lahouaiej era da Tunísia, mas tinha sido casado com uma francesa, de família da mesma origem. Batia nela e na sogra, motivo do pedido de divórcio que o deixou “deprimido”. Poderia ter passado o resto da vida cercado pela beleza da Riviera Francesa, defendendo uns trocados como motorista de caminhão e desfrutando a inesgotável fonte de encontros do Tinder. Preferiu matar 84 pessoas.

Não é impossível que, em sua revolta, existam franceses que decidam formar comitês de auto-defesa. Daí, começam os incêndios de mesquitas e os ataques em bairros de população muçulmana de onde tenham saído terroristas, preâmbulos de uma conflagração sectária.

Nada disso ajuda, ao contrário, atrapalha, no combate ao terrorismo fundamentalista. Este é um processo longo, complicado e baseado na combinação de vigilância com uso focalizado da força. Algo das garantias legais, especialmente no campo do sigilo, pode ser sacrificado. Mas o uso de hashtags emocionais definitivamente não é a resposta.

 

 

 

 

 

 

 

 

Vilma Grrizinski-Veja.com

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Parmenas Alt
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