Como cortesia do Estado, as mulheres francesas parecem ter tudo: vários filhos, um emprego e, muitas vezes, um corpo em forma. Mas o que elas não têm é igualdade.
A França ocupa a posição 46 no relatório de igualdade de gênero de 2010 do Fórum Econômico Mundial, ficando atrás dos Estados Unidos e de grande parte da Europa, mas também do Cazaquistão e da Jamaica.
Mulheres francesas ganham 26% menos que os homens, mas passam duas vezes mais tempo em tarefas domésticas
Cerca de 82% das mulheres francesas com idades entre 25 e 49 anos trabalham, muitas delas em tempo integral, segundo o Instituto Nacional de Estatística (INSEE), mas 82% das cadeiras na Assembleia Nacional são ocupadas por homens.
Duas vezes mais tarefas
As mulheres francesas ganham 26% menos que os homens, mas passam duas vezes mais tempo em tarefas domésticas, de acordo com o INSEE, poucas chegam ao topo nos negócios ou na política. Elas têm o maior número de bebês da Europa, segundo o Eurostat, órgão estatístico da União Europeia, mas também são as maiores consumidoras de antidepressivos, segundo vários estudos.
Uma pesquisa do Pew Research Center realizada recentemente com 22 países resumiu: três em cada quatro cidadãos franceses dizem acreditar que os homens tenham uma vida melhor do que as mulheres, de longe a maior parcela em todo o país que votaram.
No país onde nasceram Simone de Beauvoir e Brigitte Bardot, as mulheres parecem mais preocupadas em ser femininas, não feministas, e os homens geralmente exibem uma forma de galanteio precedente à Revolução Francesa.
Casualidade
Na verdade, a libertação das mulheres francesas pode parecer quase acidental – um subproduto de um Estado paternalista que coloca as crianças sob suas asas republicanas desde a tenra idade e tem obsessão com taxas de natalidade enraizadas em três guerras devastadoras com a Alemanha.
As mulheres gastam em média cinco horas e um minuto por dia, enquanto os homens passam duas horas e sete minutos, cuidando das crianças e das tarefas domésticas, de acordo com INSEE.
No ano passado, a França gastou US$ 135 bilhões, ou 5,1% do seu PIB – o dobro da média da UE – em cuidados com a família, as crianças e as maternidades. Em contrapartida, as mulheres francesas têm agora, em média, cerca de dois bebês, em comparação com 1,5 na União Europeia.
Além dos benefícios fiscais e subsídios, as famílias francesas têm a vantagem das “escolas maternais”, creches de período integral gratuitas instituídas um século após a Revolução Francesa, em parte, disse a historiadora Michelle Perrot, para acabar com a influência persistente da Igreja Católica Romana.
A República Francesa fez da igualdade um de seus princípios, mas deu às mulheres o direito ao voto em 1944. Embora uma lei de 1998 obrigue os partidos políticos a ter um número igual de candidatos do sexo masculino e feminino, eles tendem a pagar multas ao invés de obedecer.
*Por Bennhold Katrin