Ao negar terem recebido informações da França sobre eventual plano de atentado à delegação do país na Olimpíada do Rio, os responsáveis pela inteligência do governo brasileiro disseram que todas as delegações estrangeiras recebem o mesmo tratamento "elevado" de grau de risco.
"Todas as delegações estão tendo o mesmo grau, estão levando o sistema de segurança integrada a enfrentá-los, a tratá-los, com o mesmo grau de risco. Todos são elevados", disse o ministro-chefe do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), general Sérgio Etchegoyen.
O diretor-geral da Abin (Agência Brasileira de Inteligência), Wilson Trezza, disse que o órgão não havia recebido nenhuma informação do serviço secreto francês, até as 11h desta quarta-feira (13), sobre um eventual plano terrorista. Ele evitou criticar uma suposta decisão da França de não deixar o Brasil a par da informação.
"Eu não posso afiançar o que houve para que ele [serviço francês] tivesse divulgado [ao público] e não tivesse falado conosco ainda. Mas certamente nós vamos nos sentar para conversar sobre isso porque existem representantes do serviço de inteligência francesa no Brasil e nós temos feito conversações permanentes", disse o diretor da Abin.
Trezza e Etchegoyen concederam entrevista coletiva na sede da Abin, em Brasília, que fora agendada antes da notícia de que a França recebeu indicações de que o Estado Islâmico tem um plano para atacar atletas franceses no Rio de Janeiro.
"Nenhuma delegação terá um tratamento 'não especial'. Quando a gente classifica algumas delegações com graus de risco pode nos fazer, de alguma maneira, descuidar das outras. E como nós vamos classificar somente a francesa por exemplo, e quando houver franceses no refeitório, como é comum, para 5 mil pessoas? Como é que a gente faz? Fica uma mesa classificada com alto grau e a do lado não?", indagou o general.
"Não raciocinamos que uma delegação tem maior e outra tem menor risco. Todas são a nossa responsabilidade e para todas será dado o mesmo nível de tratamento como se o risco fosse igual para todas", afirmou Etchegoyen.
A Abin produziu até o momento, segundo Trezza, 61 relatórios de análise de risco sobre a Olimpíada, cujo conteúdo não foi divulgado à imprensa. Também foram colocados em uso telefones criptografados fixos e celulares para autoridades. A Abin desenvolveu um aplicativo chamado Athena para trocas de mensagens, imagens e vídeos e que seria o equivalente do Whatsapp, porém criptografado pela Abin e de uso restrito.
O acompanhamento dos Jogos será feito por centros de inteligência que funcionarão 24 horas por dia. O CIN (Centro de Inteligência Nacional) tem sob seu guarda-chuva o CIJ (Centro de Inteligência dos Jogos), no Rio de Janeiro, e centros regionais em Belo Horizonte (MG), Brasília, Salvador (BA), Manaus (AM) e São Paulo. Também entrou em atividade no Rio um Cise (Centro de Inteligência dos Serviços Estrangeiros) que, segundo a Abin, reúne representantes de cerca de 100 serviços de inteligência de outros países.
O diretor do Departamento de Integração da Abin, Saulo Moura da Cunha, disse que o Cise ganhou projeção a partir do entendimento de que "os jogos 'são' no Brasil, e não 'do' Brasil".
"Nesses centros teremos oficiais de ligação 24 horas por dia munidos de ferramenta [de informação online] e recebendo diariamente dois documentos que chamados de síntese de inteligência, uma pela manhã e outra à tarde. Tem o objetivo de descrever como foi o dia, ou seja, se houve algum evento significativo, qualquer que possa ter impacto no desenvolvimento dos Jogos", disse Moura.
Indagado sobre qual o nível de risco de um atentado terrorista no Brasil durante a Olimpíada, Trezza e Etchegoyen disseram que o setor de inteligência não trabalha com notas ou cores que possam indicar graus de risco maior ou menor.
Segundo Etchegoyen, "todo o sistema de segurança está alerta para a possibilidade" de um atentado terrorista, porém a "probabilidade não é elevada". "Não achamos nenhum dado que nos faça deixar a população preocupada com a probabilidade, mas estamos todos alertas e estruturados para atender essa possibilidade", afirmou o militar.
"Os alertas à população não são decisões da inteligência, são da cúpula da integração dos três eixos, defesa, segurança e inteligência, e eles serão utilizados na medida da necessidade. […] O governo já está preparando todas as alternativas para a pior hipótese, para que não sejamos pegos desprevenidos. Todas essas hipóteses imaginadas estão sendo tratadas pelo governo com o arsenal legal e os recursos disponíveis", disse o ministro do GSI.
"Do ponto de vista da inteligência, defesa e justiça, o Brasil está pronto para os Jogos de 2016", disse o general.
UOL-Esporte/RUBENS VALENTE
DE BRASÍLIA